Dias atrás a Professora Lourdes Hubler publicou um belo artigo na Gazeta e mencionou um livro de Peter Wohlleben intitulado “ A vida secreta dos animais” ( Das seelenleben der tiere).
Fiquei muito interessado e comprei o livro. Eu ainda sou um dinossauro que gosta de ler livros físicos . Só os jornais é que hoje leio pela internet.
O autor discorre com maestria sobre diversos aspectos da vida animal. Reparte suas considerações em 41 capítulos, um mais interessante que o outro. Além disso, é didático e preciso.
Ocorre que ele mora na Alemanha cuja fauna não é tão abundante como a nossa no Brasil.
Todavia , no que a nós pertine ,ele acerta em todas.
Permito-me, no entanto, dar o meu testemunho de quem há dezenas de anos lida com o que ocorre numa fazenda. Também não me considero um especialista, apesar de muito ter lido e observado, desde conselhos de peões, até dicas preciosas de fazendeiros que tem tradição de séculos, na zona da campanha .
Os animais, em geral, tem sentimentos, costumes, mas nós humanos não temos muito prestígio entre os não domesticados.
Anotei algumas coisas interessantes.
Animais de todos os tipos e raças costumam beber água nos açudes e sangas.Vão, tanto domésticos, como os selvagens. Bebem em paz todos, sem qualquer problema. Basta se aproximar um humano a pé e pronto, fogem em desabalada carreira ou vôo os animais selvagens. Quando a gente se aproxima sem gritaria a cavalo eles até ficam olhando, mas ante maior aproximação se mandam “ a la cria”.
A primeira coisa que um bovino ou ovino faz ao adoecer é se esconder no mato ou numa moita para não ser vítima de algum predador. Daí ser importante a constante vigilância em todas as invernadas. Normalmente ele tem que ser laçado, imobilizado e ali mesmo medicado.
Na maior parte das fazendas os partos se dão ao ar livre, nas invernadas. Se a cria nasce com problemas, igual a mãe a lambe normalmente . Se o terneiro não se levantar, a vaca espera um determinado tempo e abandona a cria. É hora de o campeiro tentar criar o terneiro “ guacho” ( não confunda com gaúcho) . Muitas vezes se salva o animal, que se cria muito mansinho. O problema é, na hora de vender, a choradeira das crianças que se encarregaram de cuidar do bichinho.
No mundo ovino acontece , por vezes, que a borrega sofre demais no parto e abandona o cordeirinho.
A nomenclatura nem sempre é conhecida dos urbanos: cordeiro(a), borrego(a), ovelha , capão e carneiro. Carneiro é o reprodutor.
Dizer que quer comer carne de carneiro é o mesmo que pedir carne de touro.