quinta-feira, 12 de agosto de 2021

PANDEMIA E RENÚNCIAS

 Certo dia li, no caderno de turismo de um jornal, uma reportagem que me chamou atenção. Estava sendo inaugurada uma linha aérea que saia de Porto Alegre até a Ilha do Sal, na costa africana. Olhei melhor no Google e lá estava um paraíso quente, com belos hotéis e praias. Adoro quando não preciso fazer escalas. A ilha fora uma possessão portuguesa e era de lá a falecida cantora Cesária Évora,  cujas canções  aprecio muito. Seria um bate e volta de uma semana.  Quando nos aprontávamos   para comprar as passagens lemos que na China havia um “andaço” de uma doença. Pensei: tudo que nos faltava era ficarmos trancados na Ilha sem poder voltar. Decidimos esperar um pouco e...bingo, já falavam em pandemia. Achamos melhor aguardar e cancelamos nosso projeto.

Gosto muito, demais, do Rio de Janeiro.  Há muito tempo pensávamos em comprar um pequeno apartamento no Leblon, perto do Ritz Hotel. Minha mulher e eu marcamos  passagens para 7 dias, tempo suficiente para  escolher bem calmamente um ninho para passarmos o  inverno. Avolumavam-se as notícias sobre o tal do “bichinho chinês”.

Achamos, depois de olhar vários apartamentos, um que nos agradou. Mobiliado, bem localizado. A TV noticiava que o vírus Covid 19 já ingressara em terras brasileiras.

Decidimos suspender também esse projeto.

Eu tinha combinado com o meu amigo Flávio Haas que em duas semanas  iria participar novamente do tênis sábado pela manhã no “Trem das 11”, nas quadras  Tênis Clube. Levaria para o churrasco um balaio de “prime ribs” de gado Angus. Dias depois veio a notícia: tinha piorado a pandemia. Cancelado o churrasco.

Uns dias após estava eu na frente do Supermercado Avenida em Xangri-Lá e havia  uma fila do lado de fora. Dois metros à minha frente estava uma senhora com máscara. Comentei com um amigo ao meu lado que isso era um exagero. A jovem senhora nos olhou, se identificou como médica, e nos alertou que a situação era grave. 

Daí em diante foi quase tudo fechado. Os clubes de esportes desativados. Proibido caminhar na orla, etc.

Somos criaturas que acabam se conformando. Anos atrás , num voo, perguntei a um conhecido, que tinha cumprido alguns anos de reclusão por homicídio, se ele não se desesperara por ser obrigado a se privar de tanta coisa. Disse-me que no começo pensava até em se matar. Mas com o tempo se resignara.

Se nos comportarmos quem sabe poderemos  voltar ao que fazíamos antes.O “start” vai ser dado pelos especialistas.Todos sofremos.

Não podemos morrer na praia.