segunda-feira, 15 de março de 2021

RELATO DE ATROCIDADES CONTRA INDÍGENAS

 OS INDÍGENAS DE SOLEDADE

A colaboração a seguir foi enviada por João Riél Manuel Nunes Vieira de Oliveira Brito, autor do livro Tunas-RS, 116 Anos de Fundação, 3 Décadas de Autonomia.

 Soledade, completa em 29 de março 146 anos de emancipação e a presença indígena na região é ainda pouco estudada pelos historiadores. Desde o ano de 1714, Brito Peixoto, capitão da Laguna, já manteve contato com índios locais, onde soube que na Serra do Botucaraí, haveria minas de prata e ouro, exploradas por jesuítas, após desbravar a região, descobriu que as riquezas eram na verdade os grandes ervais ali explorados.

 Em 1788 expedições oficiais lideradas por José Saldanha, que passando pelo território de Soledade encontrou vários ranchos de indígenas ervateiros e viu uma pedra chata e lisa, com a data de 1720 gravada que, aparentemente, além de provar a existência do homem branco no local, era um marco de limites entre antigos ervais. Outras pedras escritas como essa foram encontradas pelo caminho.

Em 1798 José Saldanha, já Capitão do Regimento de Dragões, subia novamente a Serra do Botucaraí, a partir de Rio Pardo, ainda encontra grupos de índios empenhados na fabricação de erva. Observou índios armados com lanças e espingardas, o que prova contato anterior com o homem branco. Nesse local, viu uma grande cruz caída, com um letreiro escrito em língua nativa: O POVO DE SÃO TOMÉ QUANDO PASSA PARA O ERVAL REVERENCIA ESTA CRUZ. 3 DE ABRIL DE 1794.

Quando da abertura da picada do Botucaraí em 1810, vários toldos indígenas foram destruídos, inúmeros silvícolas foram mortos e aprisionados, inclusive crianças. Durante o processo de construção, outros combates com os bugres foram travados. Os exploradores tiveram que pedir reforço para Rio Pardo para poderem continuar.

Conforme Cláudia Aresi: "Os indígenas que viveram em Soledade, no toldo de Lagoão eram em grande número, seriam Guaranis, teriam vindo da região do Paraguai, não quiseram viver isolados, confinados em aldeamentos, preferiram o contato com o homem branco. Em 1909, viviam nesse toldo indígena cerca de 250 índios. Dada a pressão exercida pelas frentes de colonização, parte dos índios transfere-se para o toldo Guarani em 1922. A área do toldo foi discriminada em 1911, em torno de 1.000 hectares, retirados pelo Estado de uma área de 8.000 hectares, de João da Rocha Soares. Mas, logo após a doação aos índios, a família Rocha voltou a apossar-se do território, vendendo a terra aos colonos. A partir de 1918, a área indígena de Lagoão estava colonizada, os índios expulsos e o Estado omisso. Nas décadas de 30 e 40, acentua-se o abandono dos toldos, em grande parte devido a conflitos fundiários com não índios, mas antes da interação com o homem branco, muitos indígenas foram mortos, capturados para trabalharem como escravos, mortos durante aberturas de estradas e picadas, entre tantas outras invasões  e represálias sofridas" .

Segundo Paulo Borges: "Quando Rodolpho Joaquim Borges era Intendente do Soledade (1904/1908), se instalaram na localidade de Serrinha – Lagoão, algumas famílias de índios guaranis originários da região dos matos do Iguaçú no Paraná, cujo Cacique se chamava Zeferino. Eles eram pobres e se instalaram em terras devolutas onde viviam da caça, pesca e dos roçados de sobrevivência. Em 1911 foram até a capital para conversar com as autoridades e pedir ajuda para melhorar de vida. Tiveram atenção das autoridades, receberam boa ajuda e foram recebidos pelo Dr. Carlos Barbosa, Presidente do Estado. Muitas anotações foram feitas na época, sobre a visita e, inclusive foram retratados pelo respeitado fotógrafo Virgílio Calegari. É parte importante e ainda inédita da história da formação étnica, política e cultural da gente soledadense e região."