Nossa responsabilidade pelo coletivo – Lissi Bender, doutora
em Ciências Sociais, vice-presidente da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul
Viver sem sacolas, copinhos, pratinhos, talheres descartáveis
e outros artigos supérfluos é possível. Foi possível no passado e é possível no
mundo atual. Países mais atentos à qualidade de vida e preocupados com o futuro
do planeta fornecem exemplos de que se pode viver, e melhor, com menos lixo.
Em diversos lugares no mundo o cesto, as sacolas de pano ou sacos de papel
pardo são auxiliares constantes nas compras. Sacos plásticos somente mediante
compra. Bebidas em recipientes plásticos vem acrescidas de Pfand, um
valor extra que somente é reembolsado quando o vasilhame é devolvido. Também em
duas universidades, nas quais estudei, na Albert Ludwig de Freiburg e na
Eberhard Karls de Tübingen, era comum os estudantes carregarem, preso na
mochila, uma xícara para o consumo de café ou outra bebida. Quem não trazia,
pagava vinte centavos a mais na hora de se servir nos automáticos.
Já vivenciei muitos eventos como o ChocolART, o
Weihnachtsmarkt, a Oktoberfest e outros, em que o plástico não participou
da festa. Ilustro aqui com a Sommerinselfest de Tübingen. Uma grande
festa ao ar livre em que o participante paga um valor a mais na hora de comprar uma bebida, uma
comida, que lhe é servida em belos cálices, talheres de inox e pratos de
porcelana. Na hora da devolução dos recipientes usados, recebe-se o valor, o Pfand,
pago. Resultado: a festa termina sem nada de lixo sobre os gramados.
Em Stuttgart participei da grande Feira Internacional de “Slow
Food”, um movimento originado na Itália e que está tomando conta do
planeta, em oposição ao “Fast Food” e em favor de uma mudança da qualidade,
tanto dos alimentos, quanto em favor da própria vida, da biodiversidade, da
qualidade de vida dos animais e cuidados para com o meio ambiente. “Slow Food”
é uma filosofia de vida que prima pelo vagar, menos pressa, não apenas comer,
mas degustar, sentir o sabor dos alimentos, saber que foram produzidos de forma
sadia, que os animais em vida são bem tratados, que o produtor recebe preço
justo. Por isso, também aqui os plásticos não tem vez.
Mesmo em megafestas como a Oktoberfest de München, a cerveja
é servida em canecos de vidro (de um litro - Maß). Este ano, por
exemplo, 6,3 milhões de pessoas visitaram a festa e consumiram 7,3 milhões de
litros de cerveja e os canecos não se transformaram em armas. E mesmo no Alianz-Arena
de München o plástico perdeu seu espaço. Já faz dois anos que o clube
esportivo FC Bayern instituiu um sistema de copos reutilizáveis. E mesmo
a União Europeia está a caminho de proibir objetos não reutilizáveis que deverão
ser extintos até 2021.
Alternativas existem. Significam menos bueiros entupidos,
menos riachos, rios e mar poluídos, mais preservação da natureza, das vidas, da
qualidade de vida para todos. Menos pode ser mais. E se a desculpa é o risco de
um quebrar o prato na cabeça do outro, então minha gente, ou seremos para
sempre uma sociedade incapaz de conviver civilizadamente, ou vamos mudar esta
realidade. E todos sabem que isto passa por educação em favor da convivência
coletiva, amor pelo lugar de viver, cooperação e mudança de hábito.