Como diria aquele “speaker” dos
anos 60, “atendendo a inúmeros pedidos”, darei um pitaco sobre o assunto Moro.
Tão logo Bolsonaro acenou com a proposta de o levar para o Ministério da
Justiça, publiquei a seguinte carta a Moro no meu blog e mandei-a por
mail para sua secretária (frh@jfpr.jus.br):
“ Nasceste em 1972, ano em que eu assumi meu cargo de Juiz de
Direito. Tenho idade para ser teu pai.
Tomo a
liberdade de sugerir que não aceites o cargo de Ministro da Justiça. A enorme
maioria do povo não sabe que o Ministério da Justiça é órgão do Poder
Executivo, não sendo, portanto, um ente judiciário. Os juízes de carreira têm
uma formação técnica, profissional, em que não entram quase
condicionantes políticas.
Não te
iludas com as luzes da política. É outro departamento, regido por outros
algoritmos.
Permito-me
sugerir que aguardes um pouco, porque é certo que serás indicado para o
Supremo Tribunal Federal. Lá sim, estarás no teu campo e farás História.
Continuarás juiz, o que é muito importante.
Aguarda
que em breve vão se abrir duas vagas no STF!”
Moro, não
sei se leu minha carta, deve ter meditado muito e resolveu aceitar. Mas terá
que pedir exoneração do cargo, sem direito a aposentadoria proporcional ou
retorno ao término do governo Bolsonaro. Por sinal o Conselho Nacional de
Justiça já teria aberto procedimento disciplinar por Moro, antes da exoneração,
estar em suposta atividade política. De novo: ministro da Justiça não é juiz.
O juiz
tem que se cuidar muito, porque é enorme seu poder.Ele dá liminares, manda prender, manda
soltar, ordena a saída do pai do lar, paralisa uma concorrência, embarga uma
obra, decreta uma prisão, usa o “bacenjud” para bloquear o dinheiro de uma
conta e assim vai . No mundo do judiciário não há quase negociação e as
decisões têm que ser cumpridas. Já na órbita privada são outras as variáveis,
pena de bancarrota, falência, insolvência. No cosmos político há outras condicionantes
e mais: as pessoas são, na maioria, submetidas ao crivo das eleições a cada
período de anos. Mais ainda: o cargo para o qual Moro é indicado tem seu
ocupante demissível “ad nutum”, ou seja, pode ser demitido sem explicação ou
causa.
Estará Moro
preparado para ouvir contrariedades, críticas, ataques, que nunca teve antes?
Praza aos céus que sim.Talvez Moro tenha o mesmo prestígio
que o próprio Bolsonaro. Mas é subordinado ao Presidente. Como juiz, não havia
subordinação.Agora o caminho não tem volta. Para ele é um pulo no escuro. Para
nós, esperança. Para Bolsonaro, um golaço.