terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

OS CACHORROS CAMPEIROS








As fazendas situam-se em lugares desabitados, via de regra. É o caso da nossa que tem quase 3 mil hectares. Aí que entra o papel importante dos cachorros campeiros. Eles são diferentes dos de rua e dos urbanos. Nascem num canto escondido, sem assistência profissional nem nada. Nós temos em torno de uns 15 cães adultos,entre machos e fêmeas. Sempre há um cão Alfa que se impõe aos demais  “ na marra”. E é  ele, só ele, que cruza com as fêmeas até que seja derrotado por um outro, após uma peleia bem braba.  Quando todos estão reunidos e se lhes atira um osso o Alfa rosna e caminha solenemente até o osso, sem que  ninguém o importune. Mas com os filhotes ele é condescendente. Esses cães têm dentes tão poderosos, que mastigam os ossos e os engolem. Nós nunca damos ração industrializada.Temos um tacho no qual preparamos a comida deles.

Quando se sai a cavalo para camperear, a metade deles é amarrada e a outra acompanha os peões. Depois de 15 minutos os amarrados são soltos e ficam de vigias em redor das casas.

Nas campereadas os cães são fundamentais para ajudar a tirar uma rês que se escondeu no mato . Eles não a agridem, mas a tangem  para fora, dando mordiscadas nos garrões. E ajudam na disciplina da tropeada.

Terminada a faina da manhã, essa equipe descansa e sesteia. À tarde vai o outro grupo.

Esses cães não entram, via de regra ,para dentro das casas de moradia. Nós também não os deixamos entrar no galpão de convivência, só no dos arreios. Mesmo com geada e frio eles dormem ao relento, enrodilhados. Mas super atentos: sempre uma das orelhinhas em pé. Ao menor barulho estranho já saltam e dão o alarme. Isso em qualquer horário, de dia ou de noite.

Por isso se pode dormir tranquilo, pois se alguém se aproximar da porteira é um alarido só e dá para a gente se prevenir. Eu tinha um, muito lindo, que já faleceu. Chorei muito quando o perdi. Quando eu estava na estância recusava-se a sair com os peões e ficava montando guarda na soleira da minha porta. Como se tornou meu preferido?

 
Um dia na estrada que leva da estância  à BR 287  vi um filhote lindo, abandonado, ao lado de uma bolsa vazia de adubo. Tentei pegá-lo a fim de o levar para a fazenda mas ele rosnou e não deixou. Ao retornar, lá permanecia. Pensei: alguém deve tê-lo  abandonado, mas ele acha que tem que cuidar da bolsa. Então com cuidado peguei o saco e o joguei na caçamba. Pronto,  o cusco concordou em ir comigo.O cachorro só te cobra carinho, fala com os olhos. O meu sabia quando eu estava triste.