domingo, 3 de maio de 2015

AINDA MAÇAMBARÁ - UMA AULA DE HISTÓRIA DO DES. NÉRIO LETTI


 

Conheço bem Maçambará. No tempo que ainda era distrito de Itaqui, longe, estrada de terra, passando pelo banhado de São Donato, estâncias e mais estâncias, desde as do Jango, Jaime Masgraur Maurell Filho ( dono do velho prédio do Forum de Itaqui, onde atuaram como Juiz  -  La Hire Guerra, Espiridião de Lima Medeiros,  Hugo Candal, Ernestino Pereira de Lucena,      e tantos outros magistrados. Eu fui Juiz em Itaqui de 1969 a 1972. Fui o primeiro juiz a não residir nos fundos da velha casa do  abastadp  fazendeiro Jayme Maurell Filho ( "seu Jaiminho"). Morei na casa alugada do Sr. Oscar Sayago, na rua Euclides Aranha Filho, (pai do Osvaldo Aranha), ao lado do Clube do Comércio.

 

Fui grande amigo e sou até hoje, do argentino-inglês-brasileiro, Dom Terence Raymond Coward, que administrava as Estâncias das Tres Figueiras, de propriedade do casal de ingleses famosos e riquissimos e que moravam em Buenos Aires  -  Willy Dom Dickinson e esposa dona Gladys  ( conhecí o casal na Estância das Tres Figueiras)  e tinham mais  estâncias, a estância da Palma, estância Santa Rosa e outras, de tal forma que tinham um corredor próprio, que ligava suas estâncias à industria saladeril no tempo do charque ( carne salgada, ou carne de sol), sem passar em terras de terceiros,  antes da chegada da geladeira e da indústria do frio e do frigorífico. e assim o gado era levado por este corredor até a grande indústria xarqueadora,  desde o inicio do século XX, e tiveram o saladeiro em Maçambará e ajudaram  os ingleses a construir a Estrada de Ferro, de São Borja, Maçambará, Itaqui, Uruguaiana e Barra do Quaraí, a famosa BGS - "cujo trem saía quando queria e chegava quando podia" no dito da peonada da região - sempre levando gado e alguns passageiros, no vagão destinado aos viajantes. Construiram a famosa ponte de ferro, sobre o rio Ibicui, entre Itaqui e Uruguaiana, em 1888 - com quase dois mil metros  sobre a várzea do rio Ibicui, pois, fica bem  próximo da foz com o Rio Uruguai  -   ( tem uma placa de bronze na dita ponte).
No tempo em que fui Juiz, um pouco acima da ponte, a montante, havia o local da balsa, cuja balsa ainda existia e era usada por pescadores, que se dirigiam navegando para rio Ibicui, até Rosário do Sul ou até o rio Uruguai, cuja saga foi cantada nos versos de Aparicio da Silva Rillo e do grande médico de Santiago, Dr. Aureliano de Figueiredo Pinto, musicados por Jayme Caetano Braum, Noel Guarani, Cenair Maicá, Pedro Ortaça  e principalmente, na Califórnia da Canção Nativa de Uruguaina e nos cantores e compositores do Festival da Barranca do Uruguai,  de São Borja, de onde se forjou a música nativista pura, de origem missioneira e de grande influência castelhana.
E ao chegar em São Borja, na encruzilhada, quebrando à esquerda para ir à terra dos Vargas, do Jango e de tantos politicos e histórias, pois seguindo ia dar em Santo Antonio das Missões  ( antiga Vila Treze, no Itaroquém) e São Luiz Gonzaga, aí se ubicava a localidade famosa de Nhu- Porã. Esqueçam o asfalto atual. Fiquem com a velha estrada carroçável e de rodagem,   sem macadame, de terra, de barro no inverno e de poeira no verão, era uma estação ferroviária de quem vinha de Santiago, Unistalda,  Arabutã, sendo Nhu Porã, a última estação ferroviária antes da chegada do trem da antiga V.F.,R.,G.S. das Maria Fumaça, a São Borja. Pois bem, nesta localidade, de Nhu Porã, na década de 70, quando fui juiz no Itaqui, conheci bem, aí morava e tinha um campo o gênio poético de Aparicio da Silva Rillo. Sim. Aí morava Aparicio da Silva Rillo.  Conversei com ele várias vezes.  E um dia me identifiquei como Juiz da Comarca de Itaqui. Foi o que chegou. O Aparicio da Silva Rillo, se desmanchou em atenção, respeito e dedicação e generosidade a ponto de um dia,  quando veio ao banco,  em Itaqui, foi me visitar no Forum, que eu tinha mudado para o prédio da Aduana, junto ao porto, frente à cidade de Alvear, em Corrientes, na Argentina, prédio grande, enorme da Receita Federal e que abrigou o Forum.
 
Era tudo estrada de terra. Do Alegrete a Uruguaiana são 150 Km. De Uruguaiana a Itaqui são 110 Km. De Itaqui a São Borja, passando por Maçambará,  são 80 Km. Conheço bem. De Rosário a Livramento são 110 Km. Na fronteira é assim. Tudo passa dos cem KM.
Em Maçambará, tinha o famoso "bolicho do Seu Candinho" um comércio sortido, bem no centro do então distrito itaquiense - não chegava a ser uma  -   "Barraca de Frutos do País"  -  quanto lembro o nome do "seu Candinho" - mais conhecido do que as pedras - era Cândido Penalvo da Silva - familia conhecida na fronteira. O irmão mais novo, do seu Candinho, ele o mandou estudar em P. Alegre ( já tinha economizado  uns cobres e deu para mandar o caçula estudar na capital)  e o Aristeu jogou futebol e bem e foi jogador do Renner, como half direito, marcador de ponta esquerda e era reserva do time que foi campeão gaúcho de 1954, a famosa máquina de jogar futebol do Renner, cujo técnico era o Prof. Selviro Rodrigues, professor de Educação Fisica do IPA ( e que teve um filho, Icaro, que também jogou futebol profissional).

  Hoje, arrancaram os trilhos da estrada férrea inglesa e  foi eliminada. Quando cheguei em Itaqui ainda estavam arrancando os trilhos. Levava o gado até a Barra do Quarai, e daí por barcaça ia até o grande entreposto comercial de Fray Bento, sobre o Rio Uruguai, na divisa entre Uruguai e Argentina e deste porto uruguaio, a carne era exportada para a Europa de navio. Foi desta região platina que a Inglaterra e muitos paises europeus famintos, foram abastecidos de alimentos ( inclusive da Argentina), principalmente de carne,  durante a Primeira Guerra Mundial ( 1914 a 1918) .

Quanto me lembro a BGS inglesa, que marcou época na região, cuja  história já está contada, mas ainda falta muito para recontar o que significou para a região a ferroviária inglesa - se chamava    "Britihs Great Southern " -
Maçambará se chamava de Vila Recreio. Era  um centro principalmente devido a ferrovia dos ingleses e o movimento que as estâncias administradas pelo meu amigo Don Terence Raymond Coward -  tendo como    centro a fantástica Estância das Tres Figueiras   - era uma cidade - tinha de tudo. A casa dos patrões de Buenos Aires, tinha o quarto azul, o quarto verde e o quarto amarelo para dormir tel era o refinamento dos ingleses. Riquissimos. Donos desde o inicio do século XX da Charqueada, da indústria saladeril, antes do frio e do gelo e da frigorificação da carne.
Mas, o notável cantor e compositor nativista, Telmo de Lima Freitas, policial federal,  tem uma canção clássica, absoluta, que retrata com perfeição, o que estou dizendo e que leva o nome de justamente  de " O Bolicho do seu Candinho". Todo devem escutar, com atenção e com o sentimento voltado para Maçambará, lá no meio do campo, nas lonjuras infindáveis do pampa e daquela gente que trabalha de sol a sol, cuidando do gado e agora plantando.

 Um detalhe histórico - a fazenda do Itú - do Dr. Getúlio Vargas, não fica em São Borja, como todos dizem, os jornais, etc..e até livros. Nada disso. A Fazenda do Itú, fica toda ela dentro do Itaqui. Não sei agora, com a emancipação de Maçambará, se pertence, o Itú, a Maçambará. Mas nunca teve  um pedaço de terra em São Borja. A casa do Getúlio é que fica em São Borja.  Quem vai de Alegrete, ´por dentro, isto é, pela estrada de terra, não pelo asfalto atual, feito pelo Mario David Andreazza, passa o Rio Itú, na barragem que estava inacabada, no meu tempo, chega na localidade das " Quatro Bocas" e pouco antes da encruzililhada para ir a São Borja ou para Itaqui, logo alí, está, na beira da estrada, à esquerda de quem vai, vindo do Alegrete, está a  porteira da Fazenda do Itú, tão famosa nos tempos do Getúlio Vargas.
Hoje, a casa histórica, bem preservada, lógico do que sobrou, da administração desastrosa de  uma neta do Getúlio, filha do Dr. Luthero Vargas, que morou no Itú e sem dinheiro foi vendendo tudo, tesouros, lembranças, taças, premios, etc...torrando - até que vendeu a séde da estância do Itú, e que devem ser ao redor da histórica casa  umas 24 quadras de sesmaria, pois, o restante de campo ainda pertence a familiares do Dr. Getúlio, como o Dr. Viriato Vargas Filho e outros - para um fazendeiro de Santiago, que conservou a casa, arrumou, reformou e abre à visitação pública, e que se chama  - Sr. Alceu Nicola.
Desculpem pelo alongado. Mas como Juiz no Itaqui e visitei a mais distante urna do Itaqui, justamente, na direção de Unistalda - então distrito de Santiago - quando me lembro em São Canuto, e a urna ficava numa escola cuidada por um fazendeiro ( melho pela esposa do fazendeiro), e distava do Itaqui, mais ou menos uns 120 Km, mas tudo era Itaqui, passando Maçambará, lógico, indo muito mais adiante.  E foi uma festa daquela povo, receber o Juiz. Fui com a Rural Willis da Prefeitura, num dia de semana, bem antes das eleições, pois eu fui ver e verificar e falar com o pessoal das localidades, onde tinha urna. A divisa do Itaqui ia até Santiago, justamente, no distrito de Unistalda. Hoje município progressista. Todos os distritos que se emancipam progridem. Terra onde tem estância o nosso confrade maior, o Desermbargador multimídia e agora fez esta notável cavalgada de lindas mulheres - AS ANITAS DE UNISTALDA - que lindo, justamente, de Unistalda para Maçambará.

 pois bem, antes que a cavalgada do Ruy, chegasse a Maçambará, a não ser que mudaram a estrada de terra, como ele conta, pedras, buracos, barro e poeira, etc...como são as estradas vicinais de nosso interior - um horror  -  se ainda é a mesma estrada do meu tempo, uns dez KM antes de Maçambará, entra à esquerda, no corredor,  e que dá acesso à notável e histórica fazenda das Tres Figueiras, dos ingleses, de Buenos Aires, administrada pelo Dom Terence Raymond Coward. Meu amigo, ainda vivo, e que reside aqui em Po. Alegre, na Av. Palmeira,  e sabe tudo daquela região, pois, morou durante anos nas Tres Figueiras, administrando o patrimônio de várias estâncias dos ingleses. Em Maçambará , os mais velhos, se lembram muito e sabem todos quem foi Don Raymundo.

 
Nério "dos Mondadori" Letti