Colei grau em Direito pela UFRGS em 17 .12.1969. À tarde do
mesmo dia compareci ao gabinete do General Ibá, Secretário de Segurança e lhe
apresentei meu pedido de exoneração do cargo de delegado de Polícia ( na
época bastava ser acadêmico de Direito ) concurso no qual tirara o 1.
Lugar. O General se impressionou, tentou me dissuadir mas eu estava resolvido.
Advoguei dois anos em P. Alegre e resolvi prestar
concurso para juiz de direito. Fui aprovado e, como me achava meio fraco na
área de Direito Privado, decidi escolher uma comarca longínqua. Recém tinha
sido criada a de Horizontina e optei por ela. O prefeito era Walter Buendchen,
avô da famosa Gisele.
No dia 1 de janeiro de l972 saí com meu carro de P. Alegre,
carregado de malas e livros, solito no más. Passei por Estrela e Lajeado e dali
em diante tudo me era desconhecido. Cruzei por Soledade e fui até Carazinho.
Ali tinha que dobrar a oeste pela 285. Tudo estrada de chãol. Chovia. Barro e
pedras, fui indo, Panambi, Ijui, tudo barro vermelho. Parei já de noite em S.
Ângelo e me hospedei num hotel ao lado da rodoviária. A noite toda ouvi os
ônibus roncarem. Cedo prossegui, fui até Giruá, onde me disseram que era melhor
pegar um atalho para Três de Maio. Atolei várias vezes mas cheguei . Dali a
Horizontina era um barral e fui atolando e atolando até que perto do meio dia
cheguei .Só tinha uma rua calçada. Nas outras era pura lama. Parei
num Posto de gasolina ( o único) e perguntei qual o melhor hotel da cidade.
Deram risada:
- só tem um mas está fechado, o pessoal está de férias
numa “ praia” do rio Uruguai.
- mas não tem ninguém cuidando do hotel?
- sim, tem uma empregada.
Fui no tal hotel que era de madeira. A empregada não se
emocionou com meus argumentos e não me deixou entrar. Voltei a Três de Maio e
me hospedei num hotelzinho.
Dia seguinte voltei a Horizontina e me informaram que não
havia casas para alugar, que tudo estava ocupado pelos empregados da Schneider
Logemann. Voltei ao hotel de madeira e me deram um quarto. As frestas entre as
tábuas eram tapadas por jornais. De noite baratas circulavam sobre minha cama e
sobre meu rosto. O Prefeito conseguiu me arrumar um chalé de madeira e me
mudei para lá.
Era quente, abafado, não pegava TV nem rádios da capital, o
jornal chegava dia seguinte. Era o velho oeste.
Me senti o mais infeliz dos homens, chorei uma noite inteira
e no dia seguinte falei ao escrivão Antônio Reck
- seu Antônio, vou dar um pulo em P. Alegre e volto semana que vem.
Peguei minha máquina de escrever, datilografei meu pedido de
exoneração e estava resolvido a reabrir meu escritório, onde estava ganhando o
dobro do salário de juiz.
No meio da tarde cheguei em Lajeado e decidi ir para a casa
dos meus pais em Santa Cruz. Precisava chorar junto com minha mãe. ( Quando eu
chorava perto dela, mesmo já adulto, ela chorava junto e seus olhos ficavam
muito azuis).
-Na! Was
machst Du hier? Admirou-se meu pai.
Respondi-lhe que ia pedir demissão.
Relatei-lhe todas as minhas decepções, contei-lhe das
baratas.
E ele, em alemão ( que traduzo):
-Nossa, com medo de baratas? Sentindo falta de TV? Assustado
com o barro? Mas nem te conheço mais! E nossos antepassados que vieram por
meses no mar tempestuoso? Aqui era tudo cheio de cobras e animais ferozes e
agora tu te assustas com baratas? Tu não estás certo da cabeça! Vamos
tomar uma cerveja!
E a todo momento ele me
dizia gargalhando: olha bem se não tem uma barata dentro do copo! Hahaha
De manhã cedinho retornei para Horizontina. Semanas
depois já estava feliz e adaptado....