terça-feira, 20 de agosto de 2013

AGRONEGÓCIO - UMA AULA DE IVAN SAUL


Vemos aqui alguns exemplos de como anda a pecuária em nosso país. Nós os riograndenses do sul que somos os "profissionais" da criação - que sabemos tudo de bois, vacas, cavalos e ovelhas -apresentamos tremenda diversidade de procederes e pensares.

 

Percebam que o Ruy, com suas origens, por assim dizer, urbanas e mentalidade empresarial, busca fazer as coisas de forma organizada, mediante planejamento. A estratégia do nosso amigo, que não improvisa, é a ambientação prévia de seus afamados reprodutores, quando a concorrência, no dia do julgamento, ainda estiver ensinando os animais a caminhar sobre aqueles pisos que lhes são estranhos, nosso exitoso comandante passeará elegantemente com seus concorrentes nas pistas. Enquanto a concorrência lida com animais empachados e pançudos, por excesso de comida e restrição hídrica, ou adelgaçados como galgos por não reconhecerem as novidades nutricionais que só na exposição lhes são apresentadas, nosso amigo desfila folheiros seus bem nutridos exemplares.

 

De outra parte temos os inconsequentes, os que se adaptam conforme a situação se apresente, os que pedem favores para o 'conhecido de um amigo do cunhado'. Estes que não planejam e contam com o acaso, ou que os deuses da pecuária lhes sejam favoráveis, são pacientes de um desencanto atávico, por causa das reduzidas margens de lucro da atividade não investem e por não investirem obtém reduzidas margens e por causa das reduzidas margens... São os produtores que ainda não venderam a propriedade por não terem recebido a oferta que lhes garanta o resto da vida, são os que não pararam por não saber fazer outra coisa, são os que não terão herdeiros que continuem seu trabalho.

 

Existem os entendidos, que frequentemente nascem nos CTG's, aqueles que generalizam - quem viu uma ovelha viu todas - e acreditam que se pode carregar 10 ovelhas num reboque, nem das menores raças em reboque para dois cavalos cabe essa dezena, desconsiderando seus cordeiros. Aqui temos o sujeito que ainda vai comprar uma chácara, o tipo que precisa alojar seus cavalos para as competições de laço e seus desfiles e cavalgadas, é um vaidoso. Este tipo não confessa seus prejuízos, talvez nem chegue a conscientizá-los, todavia, seu discurso se caracteriza pela negatividade específica - ovelha não dá dinheiro, leite não dá lucro, o preço do boi anda ruim - sempre com ares de doutor, defendendo suas teses sem fundamentação teórica ou prática.

 

Há os esforçados, os otimistas que acreditam na pecuária como atividade economicamente viável, que tentam planejar a médio e longo prazos, que investem sem grandes expectativas, pelo atavismo, mas esperam por dias melhores, de relações comerciais menos perversas. Os que não podem alardear produtos e produtividade por falta de sustentabilidade em um mercado que é funcional às grandes escalas, onde pequenos e médios não têm vez.

 

Enfim meus amigos, vai aqui em certo tom de desabafo, um pequeno resumo dos que se encontram do lado de cá da trincheira, dispersos e sem apoio, e longe, muito longe, em termos físicos e financeiros, daquilo que os senhores encontram nas gôndolas e balcões refrigerados dos supermercados.

 

Um grande e fraterno abraço... Ivan