terça-feira, 21 de junho de 2022

NEBLINAS E SOIS DE OUTONO

 Neblinas e sóis de outono.

A primeira neblina, o fim do mormaço / o alívio da chuva que veio dos céus \ as folhas maduras caindo do espaço\ e as mãos levantadas num graças a Deus.

Se a seca resseca\ e a geada cresta\ a fé que ainda resta nos faz renascer/e os sóis de outono que espiam nas frestas/ aparam arestas e fazem crescer.

( De uma composição minha e de   Nenito Sarturi, após uma seca tenebrosa como nunca se havia visto.Também está no CD)


Ouço  The Lark Ascending  em La Simphonie des Oiseaux ( a Sinfonia dos Pássaros), que coleta peças que remetem à Natureza. Obras de Dvorak, Schumann, Camile Saint-Saens, Mozart ( Die Zauber Flöte) e outros  mais.

Ótimo para meditar no meu refúgio marítimo. Em cidade muito grande há barulho, protesto, fechamento de vias, filas, engarrafamentos, crimes a granel. Nas pequenas, assaltantes estouram as caixas eletrônicas (não sei porque dizem OS caixas) . Aí vai ficando  impossível de viver. Então optei por de vez em quando me  refugiar no Litoral, onde não há assalto frequente e sequencial, nem barulho. Isso de março a fim de novembro.

Como já disse, fui um caçador de pássaros. Mas já estou entrando com Habeas preventivos junto às cortes celestiais. Alegarei “erro de proibição" ( Verbotsirrtum), ou qualquer outra filigrana  para, ao fim e ao cabo, só passar poucos séculos no purgatório. Nunca vi tantos pássaros  na vida, como aqui. Pode até que haja, mas eu não vi. Esses aqui de Xangri La perderam o medo dos humanos.Caminho na praia e as aves só se afastam bem pouquinho à minha passagem. “ Lo juro por la leche de mi madre” que quando toco violino os bichinhos vêm escutar. O que está me surpreendendo é meu  encantamento pelo outono que, como vemos,  está aí aguardando o inverno. 

O calendário está defasado. Há uma cor diáfana no dia, algo como se houvesse uma cortina  translúcida. Às vezes calor, em outras frio. Para dormir,  melhor tudo de cobertas. Nunca se sabe.

 Tudo isso conduz a uma alegria inebriante de  estar em paz, sem incômodos como carros com som alto, calor massacrante ou gente estressada no entorno.

Não é por nada que tanta gente, após uma vida de suor e labor, retira-se para uma fase sabática de só aproveitar o que ainda resta de bom.

Um alerta, porém: assim como há os esquimós que  adoram morar nos seus iglus e os que acham muito lindo acampar no meio dos mosquitos, é melhor deixar uma árvore enraizada no lugar.  Se preferir mudar e experimentar tenha calma, a adaptação demora. E é indispensável gostar de sua própria companhia...