quarta-feira, 6 de abril de 2022

JOÃO DORIA

 TITO GUARNIERE 

JOÃO DORIA

O que faltou a João Doria para prosseguir com alguma chance na candidatura à presidência? Afinal, o governador de São Paulo é como que um candidato natural, tal o poderio econômico e político do maior estado da federação.

Além do cargo, Doria teve papel central no combate à pandemia. Não fosse ele a vacina contra a Covid ainda tardaria talvez três meses antes de chegar ao primeiro braço, graças ao negacionismo operoso e estúpido de Bolsonaro e do seu governo. 

Ele enfrentou todas as dificuldades para fabricar a Coronavac e foi vitorioso. No entanto isso não lhe rendeu nenhum dividendo político, ao menos daqueles que se expressam nas pesquisas eleitorais. Doria andou de arrasto nas projeções, uma vez ou outra passou do rés do chão, dos 2% das preferências do eleitorado. 

Então onde ele errou? Na minha opinião o que faltou ao governador paulista foi o conhecimento da política, da vida partidária. Deslumbrado com duas vitórias improváveis, a de prefeito da capital e depois governador do maior estado, achou que podia dar o salto maior, a presidência. 

Não é assim que funciona. Em algum momento, a falta de experiência política e de convívio partidário cobra o seu preço. O PSDB era um partido expressivo, com uma trajetória vitoriosa, com serviços prestados a São Paulo e ao Brasil. Não era – e nem é – uma dessas legendas pequenas, de aluguel, que um Valdemar Costa Neto, um Bolsonaro da vida negocia, adquire e toma conta. 

O PSDB era uma organização política sofisticada, com nomes proeminentes, Montoro, Covas, FHC, Serra, Alckmin, Aécio Neves (não estranhem citá-lo: Aécio teve 54 milhões de votos em 2014. O que veio depois é outra história). Um partido que havia chegado à presidência em duas ocasiões com FHC e que deixou um legado importante para o país – e que não foi uma herança maldita, como maldosamente o PT carimbou. 

Doria, voluntarioso e autossuficiente, meio que desconheceu o peso histórico do PSDB, menosprezou nomes como o de Geraldo Alckmin, quis fazer um PSDB à sua feição e maneira. Quis tomar conta do partido como um cacique de última hora. Faltou-lhe a paciência, habilidade comum nos grandes políticos, – que ele não é nem nunca foi – de agregar, somar, de aumentar as suas áreas de influência pelo respeito e persuasão. 

Nunca o engoliram no partido. Ele venceu as prévias contra Eduardo Leite, mas basicamente pelo que ele herdou: o formidável aparato, a máquina poderosa do PSDB de São Paulo.  

Doria não se projetou nas pesquisas por sua única e exclusiva culpa. No caso de Alckmin: não se escanteia um ex-prefeito e ex-governador do estado, que chegou duas vezes à candidatura presidencial de um partido do porte do PSDB, pacificamente, sem oposições ou dissidências. Não uniu seu próprio partido - e não saiu do chão. 

Doria parece ser do tipo de líder que não gosta de sombra. Quer liderados incondicionais, subordinados. Não quer dividir o poder com ninguém, nem mesmo com os companheiros de jornada. 

Semana passada fez uma manobra confusa, desistiu da candidatura presidencial e voltou atrás. O erro não foi desistir, mas voltar atrás da desistência. 

titoguarniere@outlook.com 

twitter: @TitoGuarnieree