domingo, 6 de junho de 2021

MINHA PRIMEIRA CRÔNICA AOS 15 ANOS

 Foi em 19 de janeiro de 1961, quando eu tinha 15 anos.

Meu pai assinava, além da Gazeta, o Correio do Povo e o Reader's Diget . Eu lia tudo.

A Gazeta dava muita importância ao noticiário internacional.

Me indignei com os fatos relatados e decidi escrever um artigo. Para minha surpresa a Gazeta publicou. Esses dias meu amigo Boroski achou  a página que eu havia extraviado.

Então, lá vai.

“Há poucos dias, dois estudantes negros tiveram suas fotografias publicadas em grandes manchetes. São eles os jovens estudantes norte-americanos Charlayne Hunter de 18 anos e Hamilton Holmes de 19.

Estes dois estudantes, um rapaz e uma moça, conseguiram após muitas lutas a sua admissão na Universidade da Geórgia.


Como todos sabem, existe nos Estados Unidos a segregação racial. Esta segregação é como que uma perseguição à raça negra.


O negro não pode ser admitido onde há brancos, mas escolas, universidades, cinemas, etc. Uma revista carioca publicou uma reportagem sobre este assunto. Via-se numa fotografia uma latrina onde estava escrito: "Only for white men"! (Só para brancos).


Bem, os dois estudantes foram para a universidade e ali foram horrivelmente vaiados pelos estudantes brancos. Achava-se que tudo se acalmaria. Qual nada, as injúrias recrudesceram. Foram jogadas garrafas e pedras no dormitório da jovem Charson Layne. Interveio a polícia. Foi recebida a pedradas. Houve feridos. Só acalmaram os animos quando a policia retirou os dois estudantes católicos, negros, e os levou para casa.


Por que toda esta algazarra? Porque os dois eram negros. Digam-me, tem o negro culpa de ser desta côr? Ele é culpado por Deus ter lhe dado esta epiderme? Tem ele no seu corpo alguma coisa que rebaixe a espécie humana?


Não é ele também filho de DEUS? Pode um desalmado branco que não sabe como se ganha um vintém, que nunca suou porque trabalhou, pode um estudante branco negar o ingresso ao negro, em benefício da cultura e do bem estar do próprio país?


Por que trouxeram nosso irmão negra para cá, se não o querem, se o perseguem? Quem, nos estados do Sul, trabalhou na agricultura? Enfim, não foi o homem de cor que ajudou a levantar os Estados Unidos. Sim, dirão alguns, mas o elemento é geralmente um marginal!


Se ele geralmente é marginal é por que não conta com a nossa devida assistência, com a educação à altura.


Não é perseguindo o negro que os países resolverão este problema. Só a prática da fraternidade e da igualdade, bem amparada pela lei, é que poderão trazer aos povos tão necessária e desejada unidade e o gozo do progresso em ambiente  de paz.”