Com Sérgio Moro eu me preocupava
muito. Ele era um juiz singular, ainda não tinha a prática de julgamentos em
colegiado. Explico-me: o juiz singular despacha, instrui o processo e ao
término profere a sentença, que tem que ser fundamentada. Isso o juiz vai fazer
solitariamente, ele e Deus. Talvez se valha de pesquisas de assessores, mas
quem tem a caneta é ele sozinho. No colegiado, Tribunais de Justiça, STJ, STF
etc, a regra é que uma turma, um grupo, decide. Isso exige serenidade, acatar
quando a maioria decide em contrário a suas convicções. É uma fase para a qual
o magistrado tem que estar consciente de que a maioria decide e não ele
sozinho.Por vezes se vêem em Tribunais, discussões acirradas, o que não é e
nunca foi de meu gosto. Moro, portanto, se já não tinha a experiência de ser
contrariado, muito menos tinha a vivência dos meandros da política.
Por
isso esteve na corda bamba pronto para levar um empurrão e ser
defenestrado sem cerimônia. A meu ver - e posso estar errado- o que o salvou
foi a opinião pública. Com efeito, quando surgiram as pesquisas dando Moro com
alto percentual de aprovação, ligou-se a sirene do mundo político. Com Bolsonaro
em baixa nas pesquisas, só um louco para dar o cartão vermelho a Moro. As ruas
seriam tomadas por manifestantes e tudo mais.
Moro
maneirou a expressão de suas contrariedades e vai surfando, calmo e fagueiro,
na onda de seu prestígio ante as massas.
O General
Mourão logo de início não se deu conta de que, conquanto ele fosse general e
Bolsonaro capitão, este era Presidente. Mourão quis ajudar, mostrar seu
potencial de , na falta do Presidente, ser o homem certo para continuar
no leme do barco. Acontece que isso não pegou bem, começaram as críticas e
Mourão fez o certo. Diminui as aparições públicas.
O nosso
ministro Guedes é de pavio curto o que às vezes é bom. É muito preparado para a
área, não estava precisando desse cargo para viver, ao contrário, está deixando
de ganhar dinheiro. Muitas de suas posições causam certo temor, mas creio que o
navio está no rumo certo. Por vezes me pareceu que ia chutar o balde, mas deve
ter tido bons conselheiros que o dissuadiram. Posso estar errado mas o caminho
para o bem estar de um povo não passa pelo coitadismo, por medidas populistas e
por óbices à livre iniciativa.
No que
tange ao Presidente, vamos ter que rezar para que seus excessos verbais não
causem uma situação de irreversibilidade, se é que me entendem.
Bolsonaro
saiu das praias do Rio, mas a espontaneidade da maioria dos cariocas não saiu
dele