terça-feira, 31 de julho de 2018

OS VILIPENDIADOS PRODUTORES RURAIS


TITO GUARNIERE

 

PRODUTORES RURAIS

 

Sou do interior mas nunca tive de pegar no pesado de lavrar a terra, plantar, colher. Então, por proximidade, pela identidade de tios e primos agricultores, conhecendo a lida (um pouco à distância) e partilhando as suas aflições, sempre vi o homem do campo com admiração e respeito.

 

Com o tempo fui descobrindo que o criador, o agricultor, os brasileiros que garantem a produção dos alimentos, entretanto, não eram merecedores da mesma consideração, da parte de amplos setores da sociedade. Ao contrário.

 

Para muita gente boa, agricultores, produtores rurais são conservadores, privilegiados e exploradores. É a teoria dominante na academia, na mídia, nas esquerdas. Para estas, conta somente a chamada "agricultura familiar", e a produção dos assentamentos da reforma agrária, que certamente têm relevância, mas que, se dependêssemos delas, o Brasil estaria no mapa da fome. A agricultura familiar, os assentamentos são basicamente de subsistência. De um ponto de vista macro, em um país da extensão e da população do Brasil, os excedentes que eles produzem são insignificantes.

 

Conservadores? Muita gente não gosta deles, mas conservador é ofensa só em certas áreas impregnadas de ideologismo. O conservadorismo é uma forma legítima de ver o mundo e não um defeito. É provável que os produtores rurais, em maioria, sejam conservadores, porque eles têm de viver às suas próprias expensas, unicamente à custa do seu trabalho. E com muito trabalho, de ano a ano, dependem de outros fatores que eles não dominam: o tempo, o clima, o transporte da produção, os preços no mercado, as taxas de juros, as conjunturas nacionais e mundiais. Como falar de privilégios com todos esses fatores a intervir na produção, nos seus ganhos e rendimentos, na sua situação de vida?

 

Exploradores? Costuma-se ligar a eles, os produtores rurais e ao campo, o trabalho escravo, a situação análoga à escravidão. Existem, sim, casos da espécie. Mas as estatísticas comprovam que são residuais, constituem exceções em um universo de milhões de trabalhadores.

 

E atenção: um produtor rural que contratar um trabalhador, além das obrigações trabalhistas comuns, está sujeito a 252 exigências legais específicas, na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura. Quem vocês acham que é vítima, numa situação em que uma das partes tem 252 obrigações a cumprir ?

 

É provável que existam produtores rurais caloteiros, predadores ambientais, maus patrões. Tanto quanto em todas as demais categorias. É puro preconceito acusá-los todos, generalizar tal juízo de valor. Não há categorias de trabalhadores ou de produtores moralmente superiores às outras.

 

Os jornalistas da grande imprensa, quando falam dos produtores rurais, só falta dizer que eles vivem dos favores concedidos à "bancada rural". Mas nenhum desses jornalistas faz mais pelo Brasil do que eles, os produtores rurais. Cada vez que nos servimos de um bom prato de arroz e feijão, que tanto apreciamos, deveríamos lembrar deles com gratidão. Poucos, como o homem do campo, trabalham tanto, vivem tantas aflições e precisam vencer tantas dificuldades para viver com dignidade.