CHEGOU
ALICE
Mesmo
que eu não seja o primeiro vovô coruja, permitam-me – e perdoem-me - os
prezados leitores escrever sobre as delícias de ficar avô. Nasceu Alice, minha
neta. Forte de físico, de choro poderoso ao exigir do leite materno e com
aquela beleza que só os netos da gente têm. Boas vindas, pois, à catarinense
Alice, mistura interessante de gaúchos, paulistas e mineiros, com ascendência
alemã, portuguesa e japonesa.
Não
só meu enlevo com o primeiro “vovozado” é o que me faz escrever este texto. Tenho
preocupações com o futuro de Alice nesta República. Em boas mãos eu sei que ela
está: minha filha e genro têm as qualidades necessárias para serem pais responsáveis.
Como cidadãos de bem saberão educa-la para o respeito ao próximo, o amor à
Pátria, o temor a Deus e a observação os deveres de honestidade,
responsabilidade, comprometimento e solidariedade. Fora algum improvável
percalço, Alice também será uma cidadã de bem. O que me encanzina é o Estado.
Alice
nasceu num Brasil devastado moralmente. O ano entrante, salvo pela Providência
Divina, está fadado a ser amargo. Economia, sociedade, política, justiça,
nenhum campo se presta para boas previsões. A ética derrete em todos os cantos;
os bons exemplos rareiam; a vigarice intelectual, moral e material viceja. Os
anos vindouros, mantendo-se quem nos dirige, nem um pouco melhores tenderão a
ser.
De
qualquer sorte, isso sempre existiu. Meu pai dizia que onde os seres humanos progridem
em sociedade sempre haverá “velhaco, china e borracho”. E aduzia: “mas muito
mais homens de bem”. O problema hoje é que parece que os homens bons perderam a
vez e a voz. Em contrapartida, especialmente os velhacos se instalaram em todos
os nichos da sociedade. Não é por menos que os presídios de Curitiba “abrigam”
figuras proeminentes da República, expoentes da elite empresarial e da elite
política lado a lado com elementos do submundo dos doleiros e lobistas. Além
disso, altas figuras do Executivo e do Legislativo, de ontem e de hoje, estão
sob intensa investigação. Os altos escalões de Brasília não têm credibilidade
para informar o dia da semana.
Em
outra ponta, arrasta-se como cadáver insepulto um Governo natimorto (envenenou-se
com a própria hipocrisia durante a gestação). Anda por aí, de um lado para o
outro, como zumbi em busca de alimento, no caso, algumas gramas credibilidade.
Enquanto vaga, de suas pústulas vertem novos escândalos, o próximo mais
espantoso que o anterior. E dissemina no seu vagar os vapores pestilentos do
autoritarismo, da chicana política e jurídica, junto com uma infecção quase
incurável: o descaramento hipócrita dos delinquentes contumazes.
Além
disso...mas, esperem, eu devo é falar de Alice! De Alice que é vida nova, que é
esperança, que é luz, mesmo que este Governo tenha gasto para manter-se no
poder o patrimônio dos que vieram antes de nós, o nosso e possivelmente o dela
também. Ora, enquanto as pequeninas e pequeninos nascerem para encantar pais,
avós, familiares e amigos, sempre haverá algo de bom para acontecer.
Bem
vinda, Alice, minha ligação com a imortalidade pela genética e pela memória.
Deixemos esses ogros do presente de lado um momento e nos deliciemos com o que
efetivamente importa: a vida renovada!
Fernando Bartholomay