quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O DIA EM QUE O FANTASMA DA CRIANÇA MORTA CHOROU NO JURI EM SANTIAGO


 

Santiago, ano de l975. Eu viera promovido de Arroio do Meio. Nunca tinha morado numa cidade de campanha e de pecuária. Vinha assumir como juiz de direito da Comarca.

Uma moça revelara ao padrasto que estava grávida. “ Consome com essa criança” lhe teria dito o homem.

Submeteram a moça a alguns procedimentos amadores, como introdução de sondas, xaropes, etc, até que a gestante, menor de idade, entrou em trabalho de parto no banheiro de sua humilde casa. A criança nascera viva ( o que se constatou dos laudos posteriores), mas a deixaram sobre o piso frio e ali no chão, nua, a velaram por algumas horas o que a levou a óbito. Arrumaram uma caixa de sapatos, colocaram o cadáver da criança dentro e o deixaram às margens do Terceiro Lajeado, que é um arroio na periferia de Santiago. Guris que pescavam por ali viram um carro parando, uma pessoa descendo e deixando a caixa. Curiosos,foram lá e, para seu terror, fizeram a macabra descoberta.

A Polícia foi chamada e, pelas características do carro, em cidade pequena, foi fácil chegar aos autores.

A criança nascera viva, tratava-se, portanto de homicídio, sendo denunciadas as pessoas que haviam colaborado para o fato.

Dia hibernal, de manhã iniciou-se o júri. O vento assoviava furioso e o frio obrigou os jurados a virem de ponchos e palas. Salão do júri lotado.

Debates acesos e intensos.

Lá pelas tantas, uma empregada doméstica do dr. Castilhos, um médico que morava na frente do Forum, decidiu dar uma espiadinha no júri, levando seu bebê no colo. Ela ficou meio escondida lá no fundo do salão, apenas espiando atrás de uma porta.

Até que o então promotor, Ligio Kerber, tonitroou aos jurados:

- se os senhores absolverem os réus, o fantasma dessa pobre criança vai puxar os pés de vocês nas madrugadas e vai chorar!!!! VAI CHORAR NA CAMA DE VOCÊS!!!!

Nisso , para estupor de todos, ouviu-se um choro de criança. Comoção geral, todo mundo se entreolhando e procurando essa criança que chorara. Não havia nenhuma criança na sala.

Tive que suspender o júri por alguns minutos. Só faltou eu bradar como nos filmes” ordem na Corte!”

Foi então que o Seu Leopoldino, oficial de justiça, me informou que fora a bebê da empregada do dr. Castilhos que chorara e que a serviçal então se retirara apressadamente de onde estava.

Réus condenados 7x 0.

No creo en brujas, pero que las hay, las hay!!
 ( Publicado na gazeta do Sul de S. Cruz do Sul)