Santiago, ano de l975.
Eu viera promovido de Arroio do Meio. Nunca tinha morado numa cidade de
campanha e de pecuária. Vinha assumir como juiz de direito da Comarca.
Uma moça revelara ao
padrasto que estava grávida. “ Consome com essa criança” lhe teria dito o
homem.
Submeteram a moça a
alguns procedimentos amadores, como introdução de sondas, xaropes, etc, até que
a gestante, menor de idade, entrou em trabalho de parto no banheiro de sua
humilde casa. A criança nascera viva ( o que se constatou dos laudos
posteriores), mas a deixaram sobre o piso frio e ali no chão, nua, a velaram
por algumas horas o que a levou a óbito. Arrumaram uma caixa de sapatos,
colocaram o cadáver da criança dentro e o deixaram às margens do Terceiro
Lajeado, que é um arroio na periferia de Santiago. Guris que pescavam por ali
viram um carro parando, uma pessoa descendo e deixando a caixa. Curiosos,foram
lá e, para seu terror, fizeram a macabra descoberta.
A Polícia foi chamada
e, pelas características do carro, em cidade pequena, foi fácil chegar aos
autores.
A criança nascera
viva, tratava-se, portanto de homicídio, sendo denunciadas as pessoas que
haviam colaborado para o fato.
Dia hibernal, de manhã
iniciou-se o júri. O vento assoviava furioso e o frio obrigou os jurados a
virem de ponchos e palas. Salão do júri lotado.
Debates acesos e
intensos.
Lá pelas tantas, uma
empregada doméstica do dr. Castilhos, um médico que morava na frente do Forum,
decidiu dar uma espiadinha no júri, levando seu bebê no colo. Ela ficou meio
escondida lá no fundo do salão, apenas espiando atrás de uma porta.
Até que o então
promotor, Ligio Kerber, tonitroou aos jurados:
- se os senhores
absolverem os réus, o fantasma dessa pobre criança vai puxar os pés de vocês
nas madrugadas e vai chorar!!!! VAI CHORAR NA CAMA DE VOCÊS!!!!
Nisso , para estupor
de todos, ouviu-se um choro de criança. Comoção geral, todo mundo se entreolhando
e procurando essa criança que chorara. Não havia nenhuma criança na sala.
Tive que suspender o
júri por alguns minutos. Só faltou eu bradar como nos filmes” ordem na Corte!”
Foi então que o Seu
Leopoldino, oficial de justiça, me informou que fora a bebê da empregada do dr.
Castilhos que chorara e que a serviçal então se retirara apressadamente de onde
estava.
Réus condenados 7x 0.
No creo en brujas,
pero que las hay, las hay!!
( Publicado na gazeta do Sul de S. Cruz do Sul)