domingo, 15 de setembro de 2013

ACAMPAMENTO FARROUPILHA - A POLÊMICA

ASTOR WARTCHOW

Ola, bom dia a todos
bem, doutor Ruy, as suas fotos também mostram outras cenas, mais precisamente de uma certa falta de organização e limpeza.
Com todo o respeito aos cultuadores da historia e da tradição ( e esses dois temas por si só já seriam motivo de um longo debate)
acho que esse acampamento está a merecer uma exame mais acurado...
sobre seus propositos, sua razao de ser, etc
qual o sentido disso? é turistico? e a questão ambiental(da micro-região)...? é estético (em que sentido?)?
eu ousaria dizer que é uma caricatura
digo mais: querem algo assim historicamente representativo?
montem um acampamento gaucho/farroupilha permanente, de natureza turistica e cultural,
e que poderia ser administrado e mantido em rodízio pelos CTGs habilitados...
de modo que fosse algo que poderíamos mostrar com orgulho a qualquer visitante
agora se o modelo for esse vigente
que o façam la no meio do campo
tipo um Woodstock gaudério
abraços a todos, gauchos de todas as querencias
astor

JF ROGOWSKI

Há anos dei uma passada pelo acampamento farroupilha e nunca mais retornei. Essas imagens me deram uma sensação estranha, algo amarga, pareceu-me um grande “malocão”. Talvez reflitam uma verdade escondida, porem, percebida pelo inconsciente coletivo, a situação calamitosa do Estado do RGS. Carl Jung explica!

IVANHOE EGGLER FERREIRA

Beberagem, anarquismo, imbecilidade, uma declaração escarrada de ignorância coletiva, aliás , muito em voga no Rio Grande do Sul. Isso aí, é um arremedo do que seja cultura de um povo. Muuito pelo contrário. Tudo isso capitaneado por esse movimento ridículo chamado MTG que congrega e conduz essa tropa de ignorantes que compõe o tradicionalismo dito "gaúcho". Me tapo de vergonha em ver isso, escolado que fui na escola campeira la nas missões riograndenses, em meio aos campos missioneiros e a gente do lugar. Quando aqui em São Paulo chega o ufanismo dessa gente, fico perplexo entre os demais desta terra que escutam e vêem toda essa gabolice de se achar mais que os outros da federação. O gaúcho que eu conheci e convivi muitos anos não é isso aí. Me recuso a aceitar tal idiotice desses "fandangueiros de zona de meretrício" fantasiados com bombachas cheias de alegoria, faca atravessada na guaiaca, e gritando a toda boca o gauchismo atual. O Rio Grande do Sul, meus caros amigos confrades,  nunca foi isso aí, me perdoem os "gauchinhos". O Rio Grande sempre foi um exemplo a todos os seus irmãos brasileiros, a todos os estados da federação. Mas como, sinal dos tempos, tudo se degradou e virou vinagre, talvez esse vinagre sirva para tempêro de alguma salada de hortaliças ou até de um carreteiro desvirtuado, mas com gosto de saudade do que era nossa gente e dos nossos costumes. 

Um abraço. Ivanhoé;


AFIF JORGE SIMÕES NETO
Estimados confrades: não percamos tempo com teses. É simples: essa gente quer apenas matar um pouco da saudade das coisas do campo - a maioria veio do interior, tangida pela falta de oportunidades. Ando por lá sempre que dá no jeito, e me emociona o malocão sazonal de cada acampamento farroupilha. Prefiro aquele ambiente fumacento aos refrigerados gabinetes, e mil vezes a prosa tosca em torno de um fogo de chão às conferências sobre o novo CPC... Abraço de campanha. Afif

JULIO CESAR DE LIMA PRATES


Prezado Ruy:

Pertinentes tuas fotos, afinal ensejam belas reflexões.

Alegorias e estereótipos..

Esse ufanismo, aqui no interior, reveste-se numa dessas válvulas institucionais de escapes sociais, ao melhor estilo do carnaval. Não sem razão, todos se fantasiam para forçar uma identidade. Fazem supostos galpões dentro das repartições públicas, inclusive dentro das agências bancárias, almoçam arroz com charque e tomam guaraná em copos descartáveis. (Depois morrem de sede o resto do dia).

A noite, bailes nos piquetes e dê-lhe arroz com charque, cerveja, cachaça e Mano Lima. Dançam até madrugada e brigam boa parte das noites. Não sem razão as ocorrências policiais AUMENTAM e os plantões dos hospitais super-lotam nesses dias de comemorações farroupilhas. A forma de um provar que é mais macho que o outro, encontra justificativa subjetiva nos porres. Bêbados, (convenhamos, movimento farroupilha é sinônimo de beberagem, senão não é coisa de gaúcho) encontram no álcool razão e vazão para tudo aquilo que reprimem ao longo dos demais meses do ano.

Pela madrugada, após os ritos tresloucados dos galpões e piquetes, saem bêbados para suas casas, batem os carros, e os que andam a cavalos, são puxados por esses. As ruas são infestadas por cocô de cavalos, literalmente. 

Como tudo começou ainda dia primeiro e isso vai estender-se até o dia 20, é quase um mês produzindo esse caricato quadro social, onde o tradicionalismo reveste-se de fantasias e a identidade que mais aflora é do bêbado, do irresponsável, do inconsequente ...

E nem estou falando que - aqui no interior - é cena comum o gaúcho bêbado urinar pelas ruas, acrescentando um aroma humano ao xixi e cocô de cavalos e éguas que infestam e desgraçam o perímetro urbano das cidades (no tradicionalismo, vale tudo). Em cima do cocô vem o mosquedo...
Um caos, amigo Ruy. Ninguém me convence de que isso é reviver tradições e cultuar uma identidade. Essa esteriotipização não tem nada a ver com sentimentos cívicos e culto às tradições ancestrais e suas páginas de glória, se é que são de glórias mesmo

 




IVAN   SAUL


 

Tendo em vista que sou um tradicionalista atávico, não posso me furtar de opinar quando o assunto Tradicionalismo entra em pauta, note-se que as maiúsculas e minúsculas são propositais. Em postagem anterior tive oportunidade de comentar sobre meu passageiro envolvimento com o culto às Tradições Gaúchas ou, bem como, por um ou outro caso familiar, também tive oportunidade de narrar um pouquinho do meu intenso envolvimento com a cultura campeira e tipicamente riograndense.

 

Muita gente, com muito mais luzes que eu, já escreveu sobre o gauchismo e, me parece, à ninguém foi dada a capacidade de esgotar tema tão extenso e vibrante. Analisando apenas alguns expoentes da literatura, João Simões Lopes Neto, no Brasil, e José Hernandez, na Argentina, que aí estiveram na época certa e puderam conviver com uma "personalidade coletiva" [acabo de desafiar as leis da física] em fase final de formação, a qual prontamente entrou em declínio como consequência do sistema democrático e representativo republicano [eu sei que a Argentina tornou-se independente e republicana simultaneamente, quem não sabia era D. Juan Manuel de Rosas tiranete local metido a monarca]. Pedro II, à frente da Tríplice Aliança, com sua insistência em eliminar fisicamente o outro tiranete com aspirações totalitárias, Francisco Solano Lopez, deu início à degradação cultural e continuidade ao extermínio de uma linhagem particular de homens, processo já em curso na Argentina de Domingos Faustino Sarmiento. Linhagem esta, produto do isolamento geográfico e do abandono intelectual, por parte do Estado e da Igreja.

 

Sem querer polemizar sobre tema polêmico, preciso dar voz aos que pensam diferente, os que em geral permanecem calados. Sei que há, e respeito, uma corrente de pensamento, que pretende negar as diferenças do caráter da gente do sul. Digo "pretende" por, pessoalmente, não ser capaz de aceitar argumentação subjetiva baseada principalmente em preconceito, negação ou ressentimento/revanchismo. Palavras fortes que não devem ser lidas fora do contexto da questão cultural que abordamos no momento, são simples definição, conceituação. 

 

Aliás, culturais são as diferenças de caráter citadas e, convenhamos, descontados os ufanismos guerreiros, ainda resta grande variedade de traços culturais a nos diferenciar dos povos do resto do país, e dos seus variados caráteres. Tomemos como exemplo, não os diversos gêneros musicais encontrados, porém, a sutileza das diferentes cadências do samba produzido no Rio, São Paulo, Salvador, Porto Alegre... Para "eles" que não chegam a compreender, é "chato" o que cantam, por exemplo, Lupicínio Rodrigues e os Engenheiros. Nós os defendemos por bairrismo, simplesmente? Falo aqui de amenidades, samba, rock, futebol e, sinceramente, não vejo possibilidade de negar as diferenças.

 

Voltando ao tradicionalismo, quero crer que aqueles à quem não foi dado entender a Saga de Érico Veríssimo - o expoente do romance histórico, gênero tão atual - em que o autor, como pano de fundo, descreve a formação histórica e geográfica do nosso estado e seu povo, quem sequer folheou "O Tempo e o Vento", deveria ser proibido de usar bombacha e intitular-se gaúcho. Assim, aquele que, como eu, não leu, nem nas condensações do Reader's Digest, Karl Marx ou John Maynard Keynes não poderia intitular-se Liberal, Comunista, Socialista ou Neoliberal.

 

Beber cachaça, viver acampado, maltratar animais [gosto do inglês mistreating pois remete a confusão, malentendido - não acredito na maldade pela maldade, simplesmente], são manifestações culturais bem arraigadas e, de um ponto de vista moderno, traços deploráveis da personalidade gaúcha, como o são as Corridas de Toros ou os Rodeos, as matanças de focas, golfinhos, cangurus... que ocorrem em países e povos, pretensamente, muito mais desenvolvidos e educados.

 

Então, não podemos catalogar o "favelão gaudério" - que para quem gosta é melhor que futebol e carnaval - na pasta "Efeitos da Ignorância [e pobreza de espírito]", encerrando o caso, precisamos como disse, sempre certo na sua concisão, o Confrade Wartchow, examinar os propósitos dessa tal manifestação. Ao MTG, autointitulado, entidade máxima do Tradicionalismo Gaúcho, que há uns 80 anos consegue congregar essas pessoas em torno de "manifestações culturais" [em parte duvidosas, posto que não ultrapassam o campo das teorias - supomos que tenha sido assim], não caberia uma revisão de seus procedimentos? Não é chegada a hora do movimento cultural tornar-se, também, educacional? Do Estado intervir, no bom sentido?

 

Prezadíssimo Confrade Prates, concordo em gênero, número e grau com a tua manifestação, me reservo, porém, o direito de divergir no que se refere ao protesto relativo à bosta de cavalo. Com tanta bosta de governante que temos por aí?!

 

Grande e fraterno abraço do Ivan.

 

"Me queiram bem que não lhes custa!"