Em 1964, eu estava exilado no
Uruguay. Allende era senador, fora derrotado em sua primeira tentativa de
chegar à Presidência Dio Chile. Passou três dias em Montevideo, para participar
de ato de solidariedade aos exilados brasileiros, especialmente Jango e
Brizola. Como era fluente em espanhol, fui encarregado de acompanhá-lo. Privei,
assim, da companhia de Allende, que era um verdadeiro estadista. AFÁVEL,
BONACHÃO, ESPÍRITO ÁGIL E ARGUTO,. Depois que se foi, nunca mais o vi. Chegou à
Presidencia, se não me engano no início dos anos setenta e aí todas as forças
da reação se uniram contra ele, desencadeando a mais sangrenta e dura repressão
de que se teve notícia no cone sul. Não tivesse perecido em meio à rebelião
(por assassinato ou suicídio), teria sofrido torturas, humilhações e
vexames que ele, como pessoa superior, não poderia suportar. Todos nós, humanos
e democratas, sofremos como tu. Mas o registro daquele momento histórico,
transmitido por ti quarenta anos após, vale muito porque espelha mais uma
ferida deste pobre continente. Eliseu