´Hoje escandalizei meu filho Armando, engenheiro e empresário.
É que descobri na casa de minha mãe meus guardados, fotos antigas e os boletins escolares.
Vejam só: havia matérias como Desenho, Trabalhos Manuais, e só tirava 3 ou 4 na nota.
Em compensação, era bom em línguas estrangeiras, filosofia, e coisa e tal.
A gente tinha uma espécie de caderneta escolar, onde eram registradas as notas. Bueno: incialmente, temendo a fúria do meu pai, esmerei-me em falsificar sua assinatura, o que se pode ver a olho nu, mas a direção engolia.
Depois evoluí para a terceirização: encomendava os trabalhos manuais, com a serra tico-tico e outras bobagens, mais o desenho, para coleguinhas mais aptos, em troca de lhes fazer trabalhos abstratos.
Assim ia passando e ano e as notas melhoraram.
Meu filho se horrorizou comigo quando lhe mostrei os vestígios de meus deslizes já prescritos.
Mas será que eu já era um " espertinho" ou só queria sobreviver?
Tarde demais para saber.
Será que vai ruir todo o meu conceito? Estará contaminada toda minha carreira?
Só sei que me rio até agora ao ver a cara de espanto do meu querido filho que, na crença da ética, talvez me conceda o benefício do Estado de Necessidade.