Desenhaste um quadro
bem realista. Extirpamos a vida em nossas águas, envenenamos nossos campos,
espalhamos lixo por nossas várzeas que antes tinham flores.
Dessacralizamos a
vida e fazemos da despedida terrena um evento de entretenimento ou para
interesses pessoais. Tiramos as velas do velório, afastamos o velório de nossas
crianças e de nossos lares. Da morte, certeza única na vida, queremos poupar
nossas crianças que aprendem a viver como se eternos fossem. Não mais se
integra a morte na vida. Como se dela não fizesse parte. Nem integramos a vida
à morte. Já observaste nosso jardins da vida eterna? Verdadeiros desertos; sem
espaço para nele crescerem árvores, nem flores, nem bancos convidativos para
que o visitante possa neles se deixar ficar e refletir sobre a vida e a morte.
Nada que lembre vida, nada que atraia vida, nem aves. Para aqueles que geraram
nossas vida, nem o direito de voltar à terra e a ela se integrar permitimos.
Erguemos muros altos e neles os engavetamos. Vida eterna enquanto o muro não
despencar. Tenho a impressão que vivemos um processo de desumanização, de
coisificação da vida e da morte.