Quando assumi a Comarca de Santiago, em 1975, o asfalto só
ia até São Pedro. De lá em diante era buraco e pedra.O melhor era, nas idas a
P. alegre, tomar o trem.
Ele saía de Santiago 8 da noite e chegava em P. Alegre 8 da manhã. Baldeação em Santa Maria.
Havia um vagão leito:eu comprava as duas passagens e, portanto,dormia
sozinho no meu camarim. Durante a viagem gostava de ir ao vagão restaurante “
prosear” com os passageiros e, quem sabe, tomar uma geladinha.
Certo dia um amigo meu de Santiago, que tinha uma filha
morando em P. Alegre,cismou de visitar o tal Gigante da Beira Rio. Realizaria seu sonho dourado. Era um
Gre-Nal que começaria 16 horas de domingo, de sorte que daria tempo para
, às 20 horas, tomar o trem de volta.
Sábado à noite, portanto, pilchou-se a caráter para
impressionar bem os de P. Alegre e embarcou. No vagão restaurante
encontrou-se com uns vizinhos da região onde tinha sua estância. Ocuparam
uma mesa e mandaram baixar as Brahmas,enquanto jogavam truco. E dê-lhe truco e
cervejas até o trem chegar.
Nosso amigo desembarcou, meio “tastaviando”, tomou um taxi e
se foi para o apartamento da filha, que já o esperava com um lauto café.
Abraçou- a mas disse que ia dispensar o café e que tudo o que queria era
tirar uma pestana. A filha e o genro o ajudaram a descalçar as botas de garrão
de potro e ele avisou:
- vou tirar um cochilo, mas me acordem meio dia!
O nosso gaúcho desabou sobre o sofá e se foi para os braços
de Morfeu.
Lá pelas tantas acordou em sobressalto com um baita
foguetório. Na hora não sabia onde estava, até pensou que eram aqueles
adversários políticos de bosta comemorando mais uma vitória.
Abriu os olhos e seu netinho de 5 anos exclamou:
- vô, ganhamos de 2 x 0!
Ele olhou incrédulo para
a filha:
-paizinho, tu tava dormindo tão bonitinho que não tive
coragem de te acordar.
Não restou outra alternativa ao nosso maragato se não
calçar as botas e voltar para a estação...