O
monstro que nos devora
Na
parábola sobre quem vencerá o conflito entre o “Lobo Bom e o Lobo Mau”, conta a
lenda do povo indígena Cherokee:
- “Qual o
lobo vence?”
- “Aquele
que você alimenta!”, respondeu o velho indio.
Reclamamos do exagero tributário-arrecadatório,
principalmente pelo fato de que não há retorno proporcional em serviços
públicos de qualidade. Também reclamamos do centralismo e intervencionismo
estatal em todos os níveis das relações sociais.
Os tabelionatos e cartórios judiciais,
por exemplo, bem representam e simbolizam o absurdo a que chegamos e toleramos.
Ninguém faz um gesto, nem dá um passo, sem um “carimbo de reconhecimento por
autenticidade ou semelhança” que o habilite. Mediante taxas.
Vinte e quatro horas por dia, desde o
nascer até o morrer, o brasileiro precisa provar que ele é “ele mesmo e que é
honesto”. Em duas vias!
Outro fato: embora os belos discursos
de empreendedorismo e livre mercado, empresários e entidades classistas estão
sempre pretendendo uma anistia ou isenção fiscal. Ou um socorro financeiro para
não “quebrar”. Como se o sistema não fosse capitalista e “quebrar” fazer parte
do risco e negócio.
Quem também não fica fora da “festa”
de apropriação dos recursos públicos são os produtores e artistas em geral. Não
que as artes e a cultura não mereçam ajuda, mas desde que o respectivo apoio
público se refletisse na redução dos preços dos ingressos. Afinal, assim como
os impostos, também os ingressos são exorbitantes.
E o que dizer dos clubes de futebol, a
paixão nacional? Apesar de afundados em dívidas milionárias, estádios
financiados e superfaturados, sonegações e fraudadas transferências de atletas,
continuam recebendo imensos patrocínios de empresas, loterias e bancos
públicos.
E da política partidária (e seu
interminável balcão de negócios) nem precisamos falar.
Resumo da ópera-bufa: invés
questionarmos a natureza, dimensão e função do estado brasileiro, o que fizemos
diante de dificuldade institucional, social, econômica ou financeira?
Marcamos hora com parlamentares,
prefeito, governador, ministro e até com o presidente da república, para pedir
ajuda, isenções, incentivos, e tudo mais quanto, finalmente, caracterizará e
confirmará nossa submissão ao Estado.
É uma contradição (quase) insuperável.
Um círculo vicioso. Reclamamos e reclamamos, mas corremos para enaltecer “o
poder e beber na fonte dos recursos públicos”.
Ou seja, diariamente nós “alimentamos”
o monstro que nos devora!