domingo, 25 de maio de 2014

EXACERBAÇÃO DE PENAS, EU TAMBÉM NÃO LI NADA DO PROCESSO RODIN, MAS PUBLICO A POST DE UM PROFESSOR DA UFSM.TAMBÉM ANDO CABREIRO COM OS DESPACHOS DO MIN. BARBOSA


Na berlinda


Não bastasse o assunto do fim do vestibular para colocar a Ufesm na berlinda, tivemos, no final da semana, a divulgação da sentença, em primeira instância, do processo da Operação Rodin. E com ela, a condenação de alguns colegas nossos, a penas diversas. Silvestre foi meu aluno, quando fui professor substituto e dei aulas para o curso de Economia; trabalhei com Rubem Hoeher, quando fui pro-reitor;  convivi com Sarkis desde os tempos do movimento docente, nos anos oitenta; Zé Fernandes foi meu colega de Centro e companheiro de discussões memoráveis; Dario Trevisan foi nosso grande parceiro na introdução da Filosofia no vestibular da Ufsm. Por aí vai. Luis Pelegrini era amigo por empréstimo, em lidas no CCR. Faço essa memória e meu dou conta que tive momentos de coleguismo com todos eles, as vezes em lados diferentes de posições e opiniões sobre temas e políticas universitárias, as vezes do mesmo lado da trincheira, como na parceria com o Professor Dario. Li, por dever de consciência, os livros que foram escritos sobre o episódio pelo Professor Sarkis e pelo José Fernandes. Procurei me informar o mais que pude. Mas não temos acesso, os mortais comuns, ao processo, às acusações. Só nos resta, então, contrastar a dureza das sentenças com esses afetos simples do cotidiano da universidade.

Um amigo muito caro me chamou de filósofo, faz alguns anos, sem que isso fosse uma ironia. Isso faz muito tempo e foi ali que compreendi quando é que a gente, mero professor, pode, com sorte, virar filósofo. É quando alguém nos chama assim sem nenhuma ponta de ironia. E depois desse dia temos, com sorte, um compromisso pessoal, de fazer justiça ao qualificativo. Assim, tendo a ser meio filósofo-cético nessa hora. Penso, por exemplo, no caso do Professor Dario. Eu posso até concordar com alguns de seus críticos de época que ele levava a paixão pela Coperves a um nível pessoal e quase soberbo. Mas foi exatamente o fato de perceber nele uma dedicação quase obsessiva pelo que fazia na Coperves que me faz exercer, até hoje, um certo ceticismo em relação ao seu enquadramento no processo Rodin. Dario foi pura dedicação e profissionalismo no processo de incorporação da disciplina de Filosofia no finado vestibular da UFSM. E o trato com ele, nesse e noutros temas, não me habilita a vê-lo como alguém que deve ficar em regime fechado por mais de vinte anos.
O que eu estou me preparando para dizer é algo assim; eu gostaria de me reservar o direito de fazer juízo sobre alguns dos meus colegas somente depois que eu pudesse ler as cincoenta e seis mil folhas do processo. Eu sei que as coisas não funcionam assim, mesmo nas democracias. Não poderei ler o processo, nunca, acho, porque ele corre em "segredo de justiça"? Não entendo bem isso. Terei que esperar cincoenta anos para poder ler "o processo"? Mas, sendo um sexagenário, nada feito, então, não terei essa chance. Prefiro então exercer um ceticismo democrático, a saber, aceitar o processo como um todo, com os direitos de apelos a novas instâncias e tudo o mais, mas com essa ponta de duvida saudável. O que eu considero nessa hora é que apenas uma pessoa, o juiz federal, formou um juízo sobre uma massa de textos e documentos que os mortais como eu desconhecem; que outros juízes possam dar ser juízo é o mínimo que as regras do jogo de uma sociedade democrática deve permitir. Assim, o direito de apelar em liberdade não é apenas o exercício de "jus esperneandi", como se diz, mas uma regra básica para o lastreamento das relações humanas.