Eu tinha 16 anos, estava no 2. ano do científico em Santa Cruz, no Colégio Mauá.
Meu pai me chamou e me disse:
- com a chegada dos supermercados meu armazém de secos e molhados não pode concorrer. Sou obrigado a fechar. Não tenho dinheiro para te pagar colégio nem faculdade.
Como na época eu era bem valente, não chorei nem fiz beicinho.
Arrumei minhas duas calças e mais um par de sapatos, além de duas camisas e outras peças e me toquei para P. Alegre, onde prossegui no 3. ano Clássico do Julinho.
Morei numa pensão com mais seis no mesmo quartinho. Um banheiro para 50 caras.
Passei no vestibular de Direito da UFRGS.
Trabalhava meio turno de dia e estudava de noite.
Não existisse P. alegre e nem ensino público gratuito, eu estaria frito.
Hoje moro feliz e lampeiro na melhor cidade, disparado, do mundo.
P. Alegre.
E só não gosta dela quem não gosta do que é bom.
Ou quem dela só conhece a rodoviária.
Como eu, a maioria dos habitantes de P. Alegre é de filhos adotivos.
E filhos amorosos e agradecidos.