Certo dia o senhor
Keuner, o Pensante, se pronunciava contra a violência num auditório; de
repente, percebeu que as pessoas se distanciavam dele e, por fim, se afastavam.
Olhou em torno e viu parada atrás de si... a violência.
- O que tu disseste?
Perguntou-lhe a violência.
- Eu me pronunciava a
favor da violência. Respondeu o senhor Keuner.
Quando o senhor Keuner
foi embora, seus alunos lhe perguntaram por que dobrara a espinha. O Senhor
Keuner respondeu:
- Eu não tenho espinha
dorsal para vê-la destroçada. Justamente alguém como eu precisa viver mais
tempo do que a violência.
E o senhor K. contou a
seguinte história:
À casa do senhor Egge,
aquele que aprendeu a dizer não, chegou certo dia, no tempo da ilegalidade, um
agente exibindo um certificado expedido em nome daqueles que dominavam a cidade
e dizendo que lhe pertencia toda a casa em que pusesse os pés; da mesma forma,
pertencia-lhe toda a comida que ele pedisse; da mesma forma, deveria servi-lo
todo homem que ele visse.
O agente sentou-se numa
cadeira, pediu comida, lavou-se, deitou-se e perguntou, com o rosto virado para
a parede, antes de adormecer.
- Tu vais me servir?
O senhor Egge cobriu-o
com uma coberta, espantou as moscas em volta dele, vigiou o seu sono e, assim
como nesse dia, obedeceu ao longo de sete anos. Mas, se fazia tudo pelo agente,
uma coisa guardou-se de fazer: dizer uma palavra que fosse. Quando se passaram
os sete anos e o agente já engordara de tanto comer, dormir e mandar, o agente
acabou morrendo. O senhor Egge enrolou-o em sua coberta deteriorada, arrastou-o
para fora da casa, lavou a sala, caiou as paredes, suspirou, e enfim respondeu:
- Não.
(fonte: Escombros e
caprichos. O melhor do conto alemão no século 20. Trad. Marcelo Backes. LPM,
2004)
Maßnahmen gegen die
Gewalt
Als Herr Keuner, der
Denkende, sich in einem Saale vor vielen gegen die Gewalt aussprach, merkte er,
wie die Leute vor ihm zurückwichen und weggingen. Er blickte sich um und sah
hinter sich stehen - die Gewalt. "Was sagtest du?" fragte ihn die
Gewalt. "Ich sprach mich für die Gewalt aus", antwortete Herr Keuner.
Als Herr Keuner
weggegangen war, fragten ihn seine Schüler nach seinem Rückgrat. Herr Keuner
antwortete: "Ich habe kein Rückgrat zum Zerschlagen. Gerade ich muß länger
leben als die Gewalt." Und Herr Keuner erzählte folgende Geschichte:
In die Wohnung des Herrn
Egge, der gelernt hatte, nein zu sagen, kam eines Tages in der Zeit der
Illegalität ein Agent, der zeigte einen Schein vor, welcher ausgestellt war im
Namen derer, die die Stadt beherrschten, und auf dem Stand, daß ihm gehören
soll jede Wohnung, in die er seinen Fuß setzte, ebenso sollte ihm auch jedes
Essen gehören, das er verlange; ebenso sollte ihm auch jeder Mann dienen, den
er sähe.
Der Agent setzte sich in
einen Stuhl, verlangte Essen, wusch sich, legte sich nieder und fragte mit dem
Gesicht zur Wand vor dem Einschlafen: "Wirst du mir dienen?"
Herr Egge deckte ihn mit
einer Decke zu, vertrieb die Fliegen, bewachte seinen Schlaf, und wie an diesem
Tage gehorchte er ihm sieben Jahre lang. Aber was immer er für ihn tat, eines
zu tun hütete er sich wohl: das war, ein Wort zu sagen.
Als nun die sieben Jahre
herum waren und der Agent dick geworden war vom vielen Essen, Schlafen und
Befehlen, starb der Agent.
Da wickelte ihn Herr
Egge in die verdorbene Decke, schleifte ihn aus dem Haus, wusch das Lager,
tünchte die Wände ,atmete auf und antwortete: "Nein."