segunda-feira, 1 de julho de 2013
FRIO BAGUAL NA CAMPANHA
Cheguei ontem na estância para carregar umas vacas vazias.
Ventou toda a noite. Os espíritos dos bugres que habitavam aqui estavam inquietos.
Portas, janelas, postigos, estalavam.
Uma navalha fina e gélida passava fora das casas, furando os olhos de animais e gentes.
Acordo muito cedo, mas não quis saber de rádio nem de notícias, muito menos de arengas de falsos profetas e pregadores.
Fiz um fogo e mateei solito, envolto em minhas recordações e projetos.
Monto a cavalo para ajudar a trazer a tropa, mas já na porteira meus dedos se congelam. Dou volta e deixo que a peonada vá.
Não sou mais guri.
Vou pra junto do fogo.
O povo da cidade não sabe o que é frio.