terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MEUS DESEJOS DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA


 

De repente,  um domingo, ao sair da missa em Santa Cruz, deparo-me com uma pessoa desfilando segurando um rádio portátil  perto do ouvido. Que estupor! O cara poder ouvir rádio caminhando! Afinal, em casa a gente tinha que se sentar na frente do rádio e ouvir. Se precisasse ir ao banheiro, perdia a música ou as notícias. Mais uns dias e se tornou uma febre: poucos afortunados caminhavam com seu Spica e até o colocavam sobre a mesa ali no Quiosque. Pensei: preciso ter um para adormecer ouvindo a ZYE 8... Mas levou anos para eu poder comprar um.

Daí a pouco apareceram uns motociclos com duas rodinhas pequenas. Eram as Lambrettas e Vespas. Meu Deus, que coisa mais maravilhosa. A essas não tive acesso. Só muitos anos depois, já adulto, matei a cisma comprando uma poderosa Suzuki 2 cilindros. Mas aí não tinha mais graça, não podia mais me exibir como eu queria, para as gurias.

Sobre o título do Tênis Club já falei em outro artigo.

Mas o que eu queria mesmo era ter meu próprio violino. Lá na casa do meu  falecido vô Rudolf, em Boa Vista, havia vários, numa prateleira inatingível. Eu vivia pedindo para  meu pai pegar uma escada , tomar um e me dar. Ele alegava que não eram dele e não poderia fazer isso. Pedia-lhe, então, que fosse no Fritz Rech ou no Bazar Rex e me comprasse um novinho. Ele prometia mas sempre adiava.

Até que um dia pedi para minha mãe que desse um jeito. Meu pai era comerciante e sempre tinha uns maços enormes de dinheiro no bolso da calça. Num domingo ele tomou umas ” brahmas” da Polar a mais  e  foi sestear. Minha mãe foi no bolso e fez um “vale” no seu esposo.

Esperamos passar 2a. Feira ao meio dia. Como ele não deu pelo desfalque, lá fomos nós de tarde ao Fritz ou Bazar Rex, não lembro bem qual e compramos o mais lindo violino do mundo, um Giannini, novinho em folha, com estojo preto, diapasão e até o breu para o arco.  Dormi agarrado no violino e o no dia seguinte mostramos ao pai que até ficou feliz, afinou para mim e tocou “ cantando eu irei”.

Logo fui falar com a professora dona Amália Eidt e por pouco não me torno um Yehudi Menuhin ou quem sabe um André Rieu.

Hoje tenho vários violinos e até um Yamaha elétrico. Mas o Gianinni é meu tesouro.

Dedico essa crônica à minha adorada mãezinha que faleceu dia 22 e que foi tudo de bom na minha vida. Também dedico a todas as pessoas que estiveram no velório e me pediram que continuasse escrevendo minhas historinhas.
( publicada hoje em Gazeta do Sul)