De
repente, um domingo, ao sair da missa em Santa Cruz, deparo-me com uma
pessoa desfilando segurando um rádio portátil perto do ouvido. Que
estupor! O cara poder ouvir rádio caminhando! Afinal, em casa a gente tinha que
se sentar na frente do rádio e ouvir. Se precisasse ir ao banheiro, perdia a
música ou as notícias. Mais uns dias e se tornou uma febre: poucos afortunados
caminhavam com seu Spica e até o colocavam sobre a mesa ali no Quiosque.
Pensei: preciso ter um para adormecer ouvindo a ZYE 8... Mas levou anos para eu
poder comprar um.
Daí
a pouco apareceram uns motociclos com duas rodinhas pequenas. Eram as
Lambrettas e Vespas. Meu Deus, que coisa mais maravilhosa. A essas não tive
acesso. Só muitos anos depois, já adulto, matei a cisma comprando uma poderosa
Suzuki 2 cilindros. Mas aí não tinha mais graça, não podia mais me exibir como
eu queria, para as gurias.
Sobre
o título do Tênis Club já falei em outro artigo.
Mas
o que eu queria mesmo era ter meu próprio violino. Lá na casa do meu
falecido vô Rudolf, em Boa Vista, havia vários, numa prateleira inatingível. Eu
vivia pedindo para meu pai pegar uma escada , tomar um e me dar. Ele
alegava que não eram dele e não poderia fazer isso. Pedia-lhe, então, que fosse
no Fritz Rech ou no Bazar Rex e me comprasse um novinho. Ele prometia mas
sempre adiava.
Até
que um dia pedi para minha mãe que desse um jeito. Meu pai era comerciante e
sempre tinha uns maços enormes de dinheiro no bolso da
calça. Num domingo ele tomou umas ” brahmas” da
Polar a mais e foi sestear. Minha mãe foi no bolso e fez um “vale”
no seu esposo.
Esperamos
passar 2a. Feira ao meio dia. Como ele não deu pelo desfalque, lá fomos nós de
tarde ao Fritz ou Bazar Rex, não lembro bem qual e compramos o mais lindo
violino do mundo, um Giannini, novinho em folha, com estojo preto, diapasão e
até o breu para o arco. Dormi agarrado no violino e o no dia seguinte
mostramos ao pai que até ficou feliz, afinou para mim e tocou “ cantando eu
irei”.
Logo
fui falar com a professora dona Amália Eidt e por pouco não me torno um Yehudi
Menuhin ou quem sabe um André Rieu.
Hoje
tenho vários violinos e até um Yamaha elétrico. Mas o Gianinni é meu tesouro.
Dedico
essa crônica à minha adorada mãezinha que faleceu dia 22 e que foi tudo de bom
na minha vida. Também dedico a todas as pessoas que estiveram no velório e me
pediram que continuasse escrevendo minhas historinhas.
( publicada hoje em Gazeta do Sul)