O bom de ficar em casa no carnaval é que o
ócio nos proporciona mais reflexão sobre o que estamos vendo na televisão neste
período de Rei Momo. Estamos preocupados com as verbas públicas destinadas ao
carnaval, as quais só não rolaram como a marchinha ("as águas vão rolar,
garrafa cheia eu não quero ver sobrar") em Santa Maria por força da
tragédia da Kiss.
Há dois pontos a destacar nessa situação. 1- Prefeito carnavalesco
substituiu a sua autoridade pela de celebridade. 2- Qualquer prefeito se
entrega à moda da Ideologia do Espetáculo. Prefeito que não faz carnaval na sua
cidade é elitista e não ouve o apelo das "comunidades".
Na verdade quem somos nós, hoje, em casa, evitando o carnaval? Uma
minoria silenciosa que se nega a ouvir o coreano Psy num arranjo em axé para o
seu sucesso mundial ou entender por que Ivete Sangalo comanda a folia em
Salvador.
Rejeitamos essa "simbiose cultural" - Claudia Leitte e Psy - como os
glóbulos brancos rejeitam corpos estranhos no nosso sangue. Acredito que alguém
para ser celebridade deveria antes ter alguma autoridade.Um professor, um
cientista, um político decente, mas pode ser também um Pelé que ganhou
notoriedade pelo seu talento no futebol, sem precisar reforçar a sua imagem com
cortes de cabelo ridículos e brinquinhos na orelha.
Acontece que nossas atuais celebridades se tornaram "autoridades do
provisório" como diz Jurandir Freire Costa no seu livro "O Vestígio e
a Aura". Eu também queria ver a Marta Rocha nua quando foi miss e hoje
mulheres nuas vestindo apenas uma pintura no corpo (Globeleza em qualquer
horário) acabaram até com as fantasias juvenis.
O Ideologia do Espetáculo tornou-se uma atividade econòmica. Vejam que
maravilha: 2.500 empregos na montagem de carros alegóricos no Rio de Janeiro,
mas a Petrobrás não tem técnicos e engenheiros suficientes para sua
atividade-fim.
O Brasil é maior centro de cirurgia plástica do mundo para a implante de
próteses de silicone nos seios e nas bumbas, mas precisamos de apoio
internacional para cuidar de pessoas queimadas. É a inversão das prioridades.
Bumbas e seios siliconados à vontade, mas escassez para o tratamento plástico
reparador dos segurados dos SUS.
Autoridade é ter sabedoria fundamentada no conhecimento. Celebridade é estar em
dia com a futilidade, idolatrando a instantaneidade. Exemplo: perguntem a dez
baianos do povo, na rodoviária de Salvador, quem foi Ruy Barbosa e, depois,
repitam a pergunta sobre Ivete Sangalo. Eu fora!
Rogério Mendelski, ouvindo o quarteto de Jonah Jones