Nasci e me criei em Santa Cruz, falando só alemão até os 6 anos. Quando fui para a aula era obrigado a falar português, língua que nunca utilizei para falar com meus pais, avós ou tias. Minha mãe ainda acha que quando falo em " brasileiro" com ela é porque estou querendo a enrolar. Mas o nosso povo, naquela época, era de feições e olhos claros e eu não conhecia outros lados do nosso Rio Grande.
Vai daí que estou me preparando para ir a Uruguaiana na Fenovinos ( Feira Nacional de Ovinos). Irei daqui de POA, enquanto nosso luzente caminhão vai de Unistalda para lá levando nossdos animais. Estou louco para encontrar meu amigo Fernando Alves ( Paralelo 29).
Fui várias vezes a Uruguaiana , inclusive uma vez de músico do Miguel Marques numa Califórnia. Até hoje me maravilho com os domingos de tarde lá, todo o povo comendo sorvete na praça Rio Branco.
Mas eu queria contar que quando me formei no Ginásio , aos 14 anos,( na época a gente já sabia mais naquela altura do que hoje alguns doutores),organizamos uma " viagem de estudos" para Uruguaiana.
Fomos em uns 20 piás, chefiados por um irmão marista, de " carro-motor" até Ramiz Galvão. De lá pegamos um trem até Santa Maria. Nova baldeação e rumamos a Uruguaiana.
Nunca me esquecerei daquele trem, repleto de gente com feições diferentes das de minha terra. Peles bronzeadas, cabelos pretos, botas e bombachas, gente tocando gaita no vagão, e o trem singrando aquele oceano verde que são os campos sem fim. Que lindo, que lindo. Sentei-me na plataforma do último vagão e fiquei maravilhado com aquele mar verde infinito , com gados como eu nunca tinha visto antes ( na minha terra só tinha holandês e ainda presos em pequenos potreiros).
Tomamos banho no Rio Uruguay, bem perto da ponte.
Paramos num dormitório de um colégio de lá, cujo nome não me lembro.
No outro dia fiz minha primeira e inesquecível viagem internacional : para Paso de los Libres.
Na volta tive vontade de saltar do trem e ficar ali no meio daquele paraíso...Aquilo ali sim era o verdadeiro Rio Grande do Sul.
