domingo, 9 de julho de 2017

QUER FUGIR DO BRASIL? LEIA O ARTIGO ABAIXO


CARTAS DE PORTUGAL 2017

VAMOS COM CALMA. O BRASIL NÃO ESTÁ À BEIRA DA MORTE

Paulo Timm  - julho 03 2017

 

“O Brasil não cabe no precipício”

Delfim Neto’ 2017

“A classe média brasileira não cabe em Miami”

Leonel Brizola – 1980

 "Talvez lembremos destes dias como uma época em que o país esteve entregue a patetas e patéticos, e a revolta se dissolveu na melancolia".

L.F.Verissimo

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Estou nestes meses em Portugal onde acompanho minha companheira em seus estudos. Há tempos faço isso e acabei me familiarizando com várias questões aqui da terrinha: as boas comidas regadas ao vinho bom e barato, o clima de tranquilidade do país, um dos mais pacíficos do mundo, as contorções da política local, que reflete as acomodações à União Europeia, os sabores e dissabores da vasta colônia brasileira que aqui reside etc. Algumas destas questões já passaram por momentos críticos. Houve uma época, logo depois da Revolução dos Cravos, de grande polarização ideológica, drenada pelo protagonismo centrista  do socialista Mário Soares, que culminou na celebração democrática que hoje permite a alternância de tendências sem maiores traumas. Há mais de um ano outro socialista, Antonio Costa, comanda o Governo, cujo Presidente é um conservador. Houve tempo, também, de grandes rusgas entre os brasileiros e os portugueses, primeiro em torno da  questão dos dentistas, que inundaram o mercado, depois, das biriguetes de programa, que escandalizaram a tradicional família lusitana. Mas hoje isso acalmou, embora sobreviva uma pitada de preconceito contra brasileiros, sobretudo negros, ao que nem sempre respondemos da melhor maneira. Coisas da vida. Nada alarmante. Choque de culturas. Um amigo me explica que os portugueses são mais brutos do que nós, mas nós somos mais violentos. Há casos de revides no sopapo. As ondas de imigrantes do Brasil, porém,  se sucedem sem atentar para esses pontos obscuros. Somos a maior colônia estrangeira em Portugal, em torno de 200 mil, metade dos quais já estabelecida definitivamente. Os flutuantes oscilam de acordo com a conjuntura. Dados oficiais do Governo português apontam para os seguintes números, enquanto analistas afirmam que já somos 4% da população de Lisboa.

                                         
Na crise dos 80-90 brasileiros vieram às pencas trabalhar em grandes obras e, com o mesmo ímpeto, retornaram ao Brasil na euforia lulo-petista dos anos 2000. Lisboa baixou em pouco tempo de 60 mil para 20 mil brasileiros.  Agora, diante da crise no Brasil começam a retornar mas encontram um país muito diferente. Portugal já completou o ciclo de equiparação aos padrões europeus, está recém saindo de um período de forte austeridade - comandado pelos conservadores - e já não se oferece como um campo fértil de emprego. De resto, agora chegam, também muitos estudantes, cativados pelo custo baixo dos cursos de pós graduação associados ao baixo custo de vida, sobretudo no interior, onde pululam diversas universidades de excelente nível, começando por Coimbra, mas também Porto – que dá 50% de desconto nas anuidades para brasileiros, Aveiros, Algarve  e Covilhã, onde resido

Só no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, por exemplo, o volume de pedidos de visto de estudante nos primeiros cinco meses de 2017 foi 148% maior do que o mesmo período de 2016. Já as solicitações de vistos de residência para estudos de mais de um ano aumentaram 320%.

No consulado, os números acompanham um crescimento na solicitação de vistos em geral: de 54% em 2016, face ao ano anterior. Neste período, o crescimento para vistos de estudante foi de 60% — e este tipo de autorização corresponde a 69% de todas as solicitações de visto.

As universidades reconhecem que um pontapé importante para este movimento foi uma mudança na legislação portuguesa que permitiu a candidatura de estrangeiros à graduação, e em consequência, uma progressiva incorporação da nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingresso em seus cursos

Pedidos de visto de brasileiros para estudar em Portugal aumentam 148%



 

Detenho-me, aqui, nessa nova massa de imigrantes brasileiros que ora aportam em terras lusitanas em busca de oportunidades.

Noto que são, em grande maioria, muito jovens. Veem de várias partes do Brasil, estimulados por algumas reportagens animadoras e um pouco enganosas sobre Portugal

Profissões em falta em Portugal e seus salários médio :


 

  - e enfatuados com a crise no Brasil, sempre  com um discurso verdadeiramente catastrofista: “O Brasil acabou! Morre-se mais no Brasil em paz do que o mundo em guerra! Até um bebê tomou um balaço ainda na barriga da mãe” . Citam números: 14 milhões de desempregados, 100 mil mortos em homicídios e acidentes de carro. Parece que estão saindo da Síria, tamanho o horror com que se referem ao Brasil. Até têm um pouco de razão, mas não para tanto:



Muitos chegam de mão abanando, sem vistos adequados e sem qualquer noção do país em que estão chegando. Pensam aqui “fazer a América”, como se dizia dos que iam para Estados Unidos há pouco tempo. Aí descobrem a realidade: Mercado de trabalho restrito e salários muito baixos, com cargas horárias que chegam a 10h. O mínimo aqui são 557 Euros, em torno de R$ 2.000,00,  insuficiente para pagar uma boa moradia e viver em Lisboa. No interior até dá, mas muito apertado. Um trabalhador local ganha em torno de 1.000 euros enquanto grande parte dos profissionais de nível mais qualificado, salvo executivos, fica entre 2.000 e 2.500 euros. Vida europeia. Tudo calculado, medido, planejado. Ninguém compra a crédito. Cartão não parcela, aqui. Tudo à vista.  Duro! Uma especialista portuguesa Jessica Lopes vaticina:

 

"As nossas leis fazem dos imigrantes fantasmas sem direitos"



Diante disso frequento os inúmeros portais de apoio a brasileiros em Portugal – ou interessados em vir - respondendo à consultas e tentando ponderar este ímpeto de abandonar o Brasil. Gente com emprego estável procurando aventurar na terrinha…! Nem sempre sou bem aceito, pois imaginam que estou a serviço de alguma agência de desaconselhamento da emigração – rsrsrsrsrsrsr… Já falei sobre este assunto ao Senador Cristovam Buarque, no sentido de que sensibilize as autoridades do Itamaraty para melhor informarem os brasileiros que querem sair do Brasil. Informar não significa desestimular os sonhos de uma vida melhor. Mas  melhor instrumentalizá-los. Ou até adverti-los como fez Bill Gates, certa vez, quando convidado para uma palestra numa escola secundária na qual chegou apressado de helicóptero e leu estas 11 linhas, que lhe renderam 10 minutos de aplauso:


1. A vida não é fácil — acostume-se com isso.
2. O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
3. Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
4. Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
5. Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.
6. Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
7. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
8. Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!
9. A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
10. Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.
11. Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.

Honestamente, acho que a crise no Brasil é realmente grave, mas, como já assisti a muitas delas, desde Vargas, aprendi que o Brasil é um transatlântico. Verga mas não soçobra e, quando menos se espera, se reorganiza e retoma  seu ritmo histórico. Ritmo e estrutura. Não há que se fazer ilusões. O Brasil é uma nação em difícil construção, democracia frágil,  marcado por profundas desigualdades e que encontra na violência uma válvula de escapes sociais. Não obstante, é um país que, apesar de tudo deu certo. Saímos de um fazendão escravocrata para uma das mais sofisticadas economias do mundo.  De resto, o país é imenso. Uma coisa é a crise na cidade do Rio, outra em Porto Alegre, outra em Teresina, cujo estado cresce a ritmo impressionante. Uma coisa são as regiões metropolitanas, outra o sertão miserável, outra o interior próspero do agro-business. Recente pesquisa evidencia as 100 melhores cidades para morar no Brasil, todas com mais de 250 mil habitantes, dentre as quais Petrolina, no Nordeste, Franca e S.José do Rio Preto em S.Paulo e diversas outras: http://casaclaudia.abril.com.br/urbanismo/estas-sao-as-melhores-cidades-do-brasil-para-morar/ . Em primeiro lugar nesta pesquisa está a cidade de Maringá, no Paraná. “No quesito regiões, a Sudeste é a que mais aparece na lista, com um total de 49 cidades – oito delas estão entre as dez melhores”, para não falar de inúmeras novas e prósperas cidades dos dois Mato Grosso. E Minas Gerais? Quantas cidades maravilhosas na Serra da Mantiqueira, para onde refluem tantos que fogem do ruído e da violência dos grandes centros? Eu, aliás, prefiro as pequenas cidades, como Pirenópolis  em Goiás, qualquer das cidades do litoral do Estado de Santa Catarina, ou ainda as cidades da serra no Rio Grande do Sul, tais como Nova Petrópolis ou Veranópolis. Moro, a propósito,  no Brasil, na foz do Rio Mampituba, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que é um verdadeiro paraíso. Poucas oportunidades, por certo, mas qualidade de vida excepcional, tal como, por exemplo,  outro lugar onde também morei por muitos anos, Olhos D´Agua, perto de Brasília,  e onde estive recentemente testemunhando a bela e tranquila vida dos que lá ainda estão. Enfim, há uma sinistrose tomando conta do Brasil, disseminada pela Mídia, que recobre o país inteiro e que deve ser combatida. O Brasil não está à beira da morte. Reinvente-se, pois, dentro do próprio país, antes de sair correndo para o exterior! Mas, se depois de avaliar tudo isso e se decidir à emigrar, vá lá. Será bem vindo!