segunda-feira, 13 de março de 2017

A PROPÓSITO DO INTER E SUAS HISTÓRIAS: NEM FIO MARAVILHA ESTRAGOU MINHA PRIMEIRA VISITA AO RIO DE JANEIRO





Parece que o ano era l967. No sábado haveria o jogo Flamengo e Inter no Maracanã. Eu morava na casa da UESC ali na Tomás Flores, em P. Alegre. Li que haveria uma excursão pelo avião da Sadia, companhia aérea já extinta. Eram 10 parcelas. O dono do curso supletivo onde eu lecionava para me sustentar serviu de meu avalista. Nunca tinha andado de avião.Fui sentadinho ao lado do falecido Aldo Dias Rosa, na época dirigente do clube.  Descemos no Galeão e uma Kombi nos levou ao Hotel Marambaia em Copacabana. De tarde outra Kombi levou nossa turma ao Maracanã. Os transeuntes, ao nos verem com a vermelhinha do Inter diziam:


- ué, torcedores do América?


Nas arquibancadas uma charanga do Flamengo tocava e fazia barulho. Sentamos perto  e fomos muito bem tratados. Eram outros tempos.


O resultado foi de 1x0 para o Flamengo, gol de Fio ( Fio Maravilha).


O nosso avião só sairia 2ª. de manhã.


No domingo de manhã dei uma chegada na praia, parece que era o posto 4, bem na frente do Hotel.  Em redor de uma rede de vôlei havia várias famílias, homens, mulheres, suas filhas e filhos e alguns já estavam jogando.


Incrível, mas o Rio naquela época era muito, mas muito diferente.


Um jovem senhor, que estava com sua esposa e uma filha adolescente me disse:


- good morning! ( calculava que, pela brancura, eu fosse um estrangeiro).


Agradeci e disse que era gaúcho.


- quando esse jogo terminar, quer jogar de dupla comigo?, replicou ele.


Acedi com alegria.


- sente-se aqui com a gente, disse a jovem senhora, aceita um suco de laranja? Olha, essa aqui é nossa filha, Soninha, já tem 16 anos. E não tem namorado.


Dali seguiu-se um idílio dos maiores que vivi nesse mundo de Deus.


Eu me  portava retraído, mas  a guria era cheia de dedos na acepção literal da expressão. Em seguida, me convidou para dar uma caminhada até a Praia do Leme pelo calçadão.No caminho ela foi cantarolando “ Ai Dindi” e eu, muito sacana “ se você quer ser minha namorada” . Era o tempo da Bossa Nova.( vá no Google, vale a pena) De lá já voltamos de mãozinhas.


- Mamãe, papai, eschtamus namorandu! anunciou ela ao chegarmos à rede.


Foi aí que comecei a conhecer o verdadeiro Brasil. Se até então eu dava beijos na boca algo protocolares, a guria vasculhava com sua língua inclusive minha traquéia.


Na hora do meio dia a mãe de Sônia abriu um farnel com sanduiches e todo mundo tomou cerveja.A guria bebia mais moderadamente.


Por volta de 4 da tarde o sol começou a se por atrás dos edifícios e morros.


- Amohhh! Amohhzinho, não quer tomar um café  no nosso apahhtamento?


Declinei muito prudentemente e atochei que meus pais me esperavam decerto já aflitos no hotel.


Despedimo-nos ali no calçadão, na frente do Hotel, a Sonia me beijando   e me abraçando de corpo inteiro, pendurada no meu pescoço e seus pais com lágrimas nos olhos, achando muito lindo tudo aquilo.


Trocamos  algumas cartas durante uns meses.


Aos 18 , 19 anos não há como ser muito constante à distância.



Quando ouço,” Copacabana, princesinha do mar” me lembro, que  cheia de vida aquela menina, bronzeada, cabelos pretos e olhos mais negros que noite de lua nova.