Já contei, dias atrás,como íamos na dodge1952 do pai para Fingerhut, no rio Pardinho em Santa Cruz do Sul, aos domingos.
Tá, mas como era nos outros dias?
Quero lembrar que Santa Cruz é um caloraço no verão que vou te dizer.
Bueno. Ao invés de almoçarmos na sala, a mesa era posta numa varanda aberta, onde ao menos corria um ventinho imaginário. Nessas ocasiões meu pai permitia que me sentasse sem camisa.
Terminado o almoço, lavávamos a louça e minha mãe estendia toalhas molhadas nas lajes sob a parreira. Ali eu e minhas irmãs ficávamos umas horas. E nos molhávamos, intermitentemente com uma mangueira dágua.
Lá pelas 5 da tarde eu ia num dos arroios que existiam em nossa cidade.
Alto lá: não tinham poluição nenhuma. Cansei de, com sede, beber daquela água com a concha das mãos.
Ali uma gurizada de amigos e eu ficávamos chapinhando na água até anoitecer.
Voltávamos para as casas, sempre de pés descalços, trocávamos de calção, e jogávamos bola no meio da rua que, na época, não era calçada. As goleiras eram duas pedras. Ninguém tinha tênis ou " guides". Algum ferimento era tratado com água e sal.
Enquanto isso, nas calçadas, os casais ficavam "pegando a fresca", em suas cadeiras de lona , " proseando" com vizinhos e passantes.
Quando os pais se retiravam era hora de entrarmos também. Momento de rezar o terço, comer qualquer sobra do almoço e dormir.
De janelas abertas .
Juro, de janelas abertas, as cortinas esvoaçantes velando meu sono.
Ó jovem que me lês, juro que tudo isso existiu um dia.