Nestes dias de COPA, o Cristo Redentor
abre seus braços para o mundo. Do alto do Corcovado, envia sua bênçao aos Cinco
Continentes. Vale a pena lembrar que o filho adotivo do Carpinteiro José,
representado na estátua, tem um projeto: VIDA BOA E DIGNA PARA TODOS – “Eu vim
para que tenham vida em abundância, Joao 10.10. Para que o seu projeto – que
ele chama REINO DE DEUS – se concretize aos pés do Corcovado e em qualquer
lugar do Planeta, será necessária muita clareza política, democracia plena e muitas
pessoas dispostas a botar a mao na massa. Nenhuma bênçao vai descer do
Corcovado por um passe de mágica, como bem mostra a cidade aos seus pés, há
séculos caótica e com tantas pessoas carentes de vida abundante e digna. O
programa do filho de Maria quer ser construído passo a passo, com paciência e
determinaçao; projeto que visa o suprimento das necessidades báscias
(materiais, afetivas, sociais, espirituais); projeto de solidariedade fundada
na edificaçao das estruturas de convivência, ao contrário dos programas que
dividiram a sociedade carioca, desde sempre, em luxo e lixo, condomínios
sofisticados e favelas, pessoas favorecidas e pessoas desprezadas, pessoas privilegiadas
e pessoas esquecidas; desde os tempos de conquistadores e “bugres”, de sinhás e
mucamas, de damas e empregadas sem direitos,
de “famílias de bem” e “maus elementos”. A bênçao do Cristo Redentor
poderá acontecer onde surgirem pessoas, agremiaçoes e partidos determinados a
fechar o fosso da divisao social que tanto sofrimento já causou e continua
causando. Será que o menino Chiquinho está experimentando sinais de bênçao, agora
que deixou a rua para frequentar as reunioes do programa BOLA NA REDE
patrocinado por BROT FÜR DIE WELT
– PAO PARA O MUNDO? Agora que seu irmao Naldo deixou o negócio da venda de
drogas e aprende como ser pedreiro em uma das centenas de Escolas Técnicas
criadas nos últimos anos? Agora que o projeto MINHA CASA MINHA VIDA concede
empréstimos a juros acessíveis? Agora que a mae do Chiquinho, do Naldo e de
mais dois irmaos menores recebe a Bolsa Família que garante um prato de comida,
a matrícula obrigatória na escola e a regularidade das vacinas (vacinas que
ajudaram que o Brasil alcançasse, quatro anos antes do prazo, a meta da ONU de
reduzir a mortalidade infantil pela metade)? Os braços abertos da estátua
simbolizam o acolhimento de todos, mas o Nazareno foi antes aos doentes que aos
saos, aos sedentos que aos saciados, aos pastores de ovelhas desprezados que
aos palácios, aos louquíssimos (possuídos por sete demônios – o número da
plenitude – como Maria Madalena), aos
surdos, mudos, cegos, coxos, endemoninhados, lunáticos, paralíticos, leprosos
da sua época; os marginalizados, derrotados, feitos pobres, “maus elementos”,
presos, favelados, expulsos e violentados dos nossos dias. Mas que luta!!
Quanta leitura intencionalmente distorcida da realidade social! Quanto preconceito!
Quanta desculpa esfarrapada! Quantos interesses contrários! Quanto medo que os
Lázaros do lixo possam melhorar de vida com as migalhas do luxo! Quanto orgulho
dos de cima que se sentem melhores que os de baixo! Quanta arrogância das “boas
famílias”! Quantos equívocos dos “certos” que pretendem deixar de ser “bonzinhos”
para castigar os “maus”! Enfim: Quanta manobra para manter o fosso da divisâo;
para perpetuar privilégios enraizados em estruturas seculares; quantos argumentos
forçados para garantir a separaçao entre os “bons” e os que precisam ser
reprimidos!