quinta-feira, 31 de julho de 2014

ARTIGO DE VARGAS LLOSA - SEGUE A POLÊMICA

ROGÉRIO GUIMARÃES OLIVEIRA


O NOBEL KRUGMAN DESMENTE O NOBEL LLOSA

Soa pretensioso, mesmo a um Prêmio Nobel, misturar política com futebol.  Mas a ironia da realidade, mesmo nesta mistura, dá uma rasteira na análise pessimista do grande e premiado escritor peruano Vargas Llosa.  Afinal, a Seleção Brasileira, mesmo tendo sofrido uma derrota, com “d” maiúsculo, de 7 a 1 da seleção alemã, chegou às finais da Copa e classificou-se num honroso e nada humilhante 4.º lugar no torneio, dentre as 32 seleções que se habilitaram a disputá-lo.  Se ninguém gosta de perder uma partida por 7 X 1, não se pode dizer que seja desprezível a 4.ª melhor colocação do mundo alcançada pelo nosso futebol, com todas as falhas que tinha neste ano de 2014.  Da mesma forma, a realidade sócio-econômica que vivenciamos aqui hoje dá a mesma rasteira na tentativa ousada do ficcionista Llosa de converter-se num analista social, econômico e político sobre a realidade do Brasil, que ele parece desconhecer pelo exato motivo de alimentar-se de fontes possivelmente manipuladoras e nada isentas. Se nossa economia ainda não é pujante e perfeita, sem falhas ou máculas, como prefeririam os “puristas” de plantão, ela é hoje incontestavelmente melhor, mais robusta, mais próspera e  - sobretudo -  mais democrática do que ela era lá nos idos  de 2002, último ano em que vigorou entre nós um sistema de governo que privilegiava poucos em detrimento da esmagadora maioria. Nos anos de FHC houve boas iniciativas, sim, nem se discuta isso, mas este não é o cerne da questão. O problema é que naqueles anos predominou o neoliberalismo (do qual Mário Vargas Llosa é fiel servidor e escudeiro), houve a venda sem critérios da propriedade pública a preço de bananas (beneficiando alguns poucos coronéis da política, por meio de muita corrupção – vide obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr. – Privataria Tucana) e prevaleceu uma submissão absurda do Brasil ao FMI, dentro da doutrina do chamado “complexo de vira-latas” em que os governos brasileiros sempre submeteram-se, de quatro, às vontades dos governos de fora, especialmente os dos EUA. Assim, os anos FHC foram pródigos em gerar alto desemprego, inflação elevada (apesar do Plano Real, a inflação média dos anos FHC foi de 14% ao ano, contra 6% na média do governo Dilma), produziu arrocho salarial sem precedentes (o salário mínimo era de acachapantes 66 dólares em 2002), produziu e distribuiu miséria e pobreza, com sobra de estagnação do crescimento econômico do nosso país gigante-adormecido-em-berço-esplêndido. Os números estão aí, para quem quiser compará-los seriamente.  Diante deles, só resta mesmo apelar para leituras ficcionais de quem seja um bom ficcionista, como é Vargas Llosa, capaz de escrever, com grande desenvoltura e denodo, aliás, um bom quadro ficcional sobre a realidade brasileira, que ele desconhece. Todavia, o que ele diz sobre o Brasil, sobre o Lula, sobre a Dilma e sobre o PT  - tão odiados por alguns aqui neste espaço, a propósito -  não reflete o que pensam, rigorosamente, outros tantos intelectuais, dentre escritores, economistas e pensadores não menos ilustres, não menos brilhantes e não menos premiados do que o romancista peruano.  E há também um outro pessoal que não concorda com o Mário Llosa: os dois terços da população brasileira que melhorou de vida em razão dos governos do PT. Mas, este último não conta, porque aqui estamos tratando sobre gente notável, e estes, tanto daqui mesmo do Brasil quanto de várias outras partes do mundo, são muitos.  Vou me ater a citar só um deles, sugerindo aos interessados no tema examinar o que diz um outro Prêmio Nobel, também agraciado pela academia sueca e que, por certo, deve entender muito mais (e melhor) do “roçado”.  Trata-se do economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008.  O realista Krugman desmente o ficcionista Llosa. E, nesta “briga de cachorro grande” entre nobéis, fico com o diagnóstico acurado do Nobel de Economia, que assim foi condensado pelo próprio: “- O Brasil está se saindo muito bem.”

Att. Rogério