O NOBEL KRUGMAN DESMENTE O NOBEL LLOSA
Soa pretensioso, mesmo a um Prêmio Nobel, misturar política com
futebol. Mas a ironia da realidade, mesmo nesta mistura, dá uma rasteira
na análise pessimista do grande e premiado escritor peruano Vargas Llosa.
Afinal, a Seleção Brasileira, mesmo tendo sofrido uma derrota, com “d”
maiúsculo, de 7 a 1 da seleção alemã, chegou às finais da Copa e classificou-se
num honroso e nada humilhante 4.º lugar no torneio, dentre as 32 seleções que
se habilitaram a disputá-lo. Se ninguém gosta de perder uma partida por 7
X 1, não se pode dizer que seja desprezível a 4.ª melhor colocação do mundo
alcançada pelo nosso futebol, com todas as falhas que tinha neste ano de 2014.
Da mesma forma, a realidade sócio-econômica que vivenciamos aqui hoje dá
a mesma rasteira na tentativa ousada do ficcionista Llosa de converter-se num
analista social, econômico e político sobre a realidade do Brasil, que ele
parece desconhecer pelo exato motivo de alimentar-se de fontes possivelmente
manipuladoras e nada isentas. Se nossa economia ainda não é pujante e perfeita,
sem falhas ou máculas, como prefeririam os “puristas” de plantão, ela é hoje
incontestavelmente melhor, mais robusta, mais próspera e - sobretudo
- mais democrática do que ela era lá nos idos de 2002, último ano
em que vigorou entre nós um sistema de governo que privilegiava poucos em
detrimento da esmagadora maioria. Nos anos de FHC houve boas iniciativas, sim,
nem se discuta isso, mas este não é o cerne da questão. O problema é que
naqueles anos predominou o neoliberalismo (do qual Mário Vargas Llosa é fiel
servidor e escudeiro), houve a venda sem critérios da propriedade pública a
preço de bananas (beneficiando alguns poucos coronéis da política, por meio de
muita corrupção – vide obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr. – Privataria
Tucana) e prevaleceu uma submissão absurda do Brasil ao FMI, dentro da doutrina
do chamado “complexo de vira-latas” em que os governos brasileiros sempre
submeteram-se, de quatro, às vontades dos governos de fora, especialmente os
dos EUA. Assim, os anos FHC foram pródigos em gerar alto desemprego, inflação
elevada (apesar do Plano Real, a inflação média dos anos FHC foi de 14% ao ano,
contra 6% na média do governo Dilma), produziu arrocho salarial sem precedentes
(o salário mínimo era de acachapantes 66 dólares em 2002), produziu e
distribuiu miséria e pobreza, com sobra de estagnação do crescimento econômico
do nosso país gigante-adormecido-em-berço-esplêndido. Os números estão aí, para
quem quiser compará-los seriamente. Diante deles, só resta mesmo apelar
para leituras ficcionais de quem seja um bom ficcionista, como é Vargas Llosa,
capaz de escrever, com grande desenvoltura e denodo, aliás, um bom quadro
ficcional sobre a realidade brasileira, que ele desconhece. Todavia, o que ele
diz sobre o Brasil, sobre o Lula, sobre a Dilma e sobre o PT - tão
odiados por alguns aqui neste espaço, a propósito - não reflete o que
pensam, rigorosamente, outros tantos intelectuais, dentre escritores,
economistas e pensadores não menos ilustres, não menos brilhantes e não menos
premiados do que o romancista peruano. E há também um outro pessoal que
não concorda com o Mário Llosa: os dois terços da população brasileira que
melhorou de vida em razão dos governos do PT. Mas, este último não conta,
porque aqui estamos tratando sobre gente notável, e estes, tanto daqui mesmo do
Brasil quanto de várias outras partes do mundo, são muitos. Vou me ater a
citar só um deles, sugerindo aos interessados no tema examinar o que diz um
outro Prêmio Nobel, também agraciado pela academia sueca e que, por certo, deve
entender muito mais (e melhor) do “roçado”. Trata-se do economista Paul
Krugman, Prêmio Nobel de Economia de 2008. O realista Krugman desmente o
ficcionista Llosa. E, nesta “briga de cachorro grande” entre nobéis, fico com o
diagnóstico acurado do Nobel de Economia, que assim foi condensado pelo
próprio: “- O Brasil está se saindo muito bem.”
Att. Rogério