Santa
Cruz da minha meninice, só fui me dar conta disso mais tarde, era uma
cidade norte-americana. A cidade. A colônia, não.
Esta continuava alemã. Mas a cidade era como uma do meio oeste dos EUA. Basta que se relembrem os repertórios de nossas
lendárias orquestras de bailes. Por sinal, o mesmo fenômeno ocorreu na própria
Alemanha que, no pós guerra, se inclinou para o jazz e costumes dos “ americanos”.
Santa Cruz dançava Fox trot no club União, “o
mais aristocrático”. Jogávamos
basquete, havia o “footing”.Cortávamos cabelos à
escovinha, a Rádio Santa Cruz rodava o Elvis, Paul Anka, Neil Sedaka
Mas algo me marcou naquela época. O Tênis Club construíra sua piscina e colocara à venda títulos. Só
quem os comprasse, salvo engano, poderia frequentar aquele lugar idílico. Quando vi aquela água azul desdenhei na hora das
do Rio Pardinho ou da Praia dos Folgados Eu via meus amigos, de
famílias prósperas, desfilando no centro com uma toalhinha e um short de
reserva, antes de irem à Piscina. Esta era
um lugar só acessível aos deuses do Olimpo, não para
a classe média. Pois não me conformei e, com 16 anos, pedi um emprego de meio
turno na Assmann e o Rudi Etges me
acolheu, pagando-me meio salário mínimo o que achei ótimo. Além disso passei a
vender cestas de Natal Titanus e fui juntando os pilas até poder
comprar um título. Coloquei minhas irmãs Lia e
Cleonice como dependentes e gloriosamente fomos integrar a “ elite”. Coisa de
louco, quando me recordo disso: a vontade de ascender socialmente.
Corta agora para mim, num close.
Quase que semanalmente vou visitar minha mãe de 93 anos.
Sempre desço a Picada Velha ( ainda se chama assim?) e perto de onde meus avós Rudolf e Rosa se desastraram e morreram em
1953, tem uma estátua de São Cristóvão. Incrível! São Cristóvão está preso, enjaulado, recluso
atrás de grades conquanto , para seu consolo, cercado de flores.
Quer dizer: algo mudou na
minha terra natal, de casas abertas, sem chaves,
dos anos 60. São obrigados a prender o santo de certo para o mesmo não ser sequestrado por um passante? Mas de que jeito, assim preso, vai poder carregar
Jesus? (Cristóvão (em grego:
Άγιος Χριστόφορος, em latim: Christophorus)
Será mesmo que num espaço de apenas 50 anos tudo mudou tanto
? desapareceu a miragem “ yankee”?
Abre a Câmera para o S.
Cristóvão encarcerado. Uma voz ao fundo:
-É, em todos os lugares
foi assim, progresso a qualquer preço, tem seu preço....