sábado, 2 de junho de 2012

O VALOR DE UM PAI OU O QUE VALE UMA PUTEADA NUM FILHO

O fato se passou em 1972 e agora me animo a contar.
Era 2 de janeiro. Saí de P. Alegre, onde morava e parti rumo a Horizontina onde assumiria meu cargo de Juiz de Direito. No meu Corcel zero bala levava minhas malas e rumava ao desconhecido. Consultei o mapa e tomei a  386, passei Lajeado, Soledade, até que arribei em Carazinho. Ali peguei a 285 e já anoitecia. Em seguida já peguei estrada de chão. Chovia.
Quando cheguei a Ijui parei e me hospedei num hotelzinho na beira da estrada. Dormi mal para cachorro. Acordei e rumei a Giruá onde o barro vermelho dominava. O trecho entre Três de Maio e Horizontina venci atolando e atolando.
Até que, num domingo ao meio dia cheguei em Horizontina.
Cidade vazia.
Parei num posto ( o único) e indaguei qual era o " melhor " hotel. Só tinha um.
Tive que parar naquele mesmo, que era precário.
Não havia casa para eu alugar. Até que  o dr. Logemann, da SLC, conseguiu uma.
Não havia TV e o jornal de P. Alegre chegava no dia seguinte.
Três dias depois senti  uma baita depressão e tomei uma decisão.
VOU PEDIR EXONERAÇÃO, ISSO NÃO É PARA MIM.
Seu Antônio Reck era o escrivão. Falei a ele que iria resolver um assunto em P. Alegre. Coloquei todas minhas malas no Corcel e me meti na estrada.
Na altura de Lajeado ia chorando, angustiado: tinha 26 anos, ia reabrir meu escritório de advocacia e pronto.
Me lembrei dos meus pais e decidi dobrar à direita e ir para Santa Cruz. Cheguei em casa e meu pai falou:
- WAS MACHST DU HIER? ( que fazes aqui?)
- Vou pedir demissão.
- Warum? ( why)
- Pai, aquilo não  é para mim, a cidade é pequeninha, não tem TV e...
- Nooossa - respondeu meu pai - que tragédia! quando tu eras guri também S. Cruz era pequena e não tinha TV
- Pai, moro muito mal..
- Grande coisa. Teus avós vieram num navio que viajou dois meses no mar e não tinha comida.
- Mas pai..
- Que fiasco hein, rapaz! Estás te cagando nas calças por bobagens.  Vamos tomar uma cerveja e tens que me contar qual é o motivo de verdade que te leva a uma  besteira dessas. Isso que estás me contando só pode ser mentira. Estás com medo de assumir teu cargo?
Tomamos a cerveja, fui dormir e na madrugada voltei a Horizontina sem contar nada a ninguém.