As cidades, seus urbanistas e
arquitetos
Os
arquitetos, em especial os urbanistas, parecem não dar suficiente atenção para
aspectos da economia, política, demografia, climatologia, psicologia coletiva e
para submundo do poder financeiro, midiático e das estruturas sombrias e
irreveláveis que regem tudo isso.
Exemplos?
Os
dois maiores arquitetos do século vinte (erroneamente avaliados pela
propaganda), Le Corbusier e Niemeyer , criaram cidades de difícil
convivência para o ser humano.
A
ideia de comodidade é alheia à arquitetura dita de vanguarda. As cadeiras
desenhadas por Frank Lloyd Wright, por exemplo, foram definidas por um crítico
como “um instrumento diabólico de tortura idealizadas para os olhos não
para os glúteos”.
Os
defeitos acabaram por se converter em um detalhe do estilo. Numa residência
feita por Wright para um milionário (que é com quem os arquitetos gostam de
trabalhar, milionários tanto privados como estatais), uma goteira
pingava justo na cabeça do empresário à cabeceira de sua mesa de
refeições.
Consultado,
o arquiteto sugeriu que o proprietário se mudasse para outra cadeira da mesa. E
as manchas de umidade acabaram se convertendo num selo distintivo da
arquitetura de Wright.
Algo
semelhante aconteceu com Niemeyer. Quando um visitante observou que numa casa
projetada por ele em Petrópolis havia goteiras por todos os lados, a dona da
casa orgulhosa disse: “Claro, nas casas de Niemeyer, chove “.
Os
custos, para Le Corbusier eram uma preocupação mesquinha, indigna de um artista.
A
indiferença deste famoso arquiteto pelo ser humano se revelou com ênfase no
edifico do Exército de Salvação de Paris, para o qual ele havia inventado um
sistema de refrigeração com janelas invioláveis ( usadas na maioria
de nosso edifícios públicos). Quando chegou o verão, o sistema não
funcionou e os habitantes no limite da asfixia se rebelaram e abandonaram o
edifício.
Um
complexo habitacional de Le Corbu em Marselha, foi um fracasso como estilo de
vida comunitária. Os corredores eram desmesuradamente compridos e escuros
nos quais abriam-se as portas dos aptos e se constituíam numa zona ambígua ,
nem privada nem pública que transformava a saída de casa numa aventura
insegura e atemorizante. Estas obras ,não obstante, foram um modelo de especulação
imobiliária para os planos burocráticos de vivendas baratas o que
se viu refletido nos sinistros monoblocos construídos nos distantes
subúrbios das megalópoles atuais. Por fim, um crítico severo de Le Corbusier
afirmou que seus conjuntos habitacionais, eram “campos de concentração
aplicados à arquitetura”.
As
casas e as cidades dos arquitetos de vanguarda são mais esculturas do que
arquitetura, são ” casas de coleção “, aptas para ser exibidas em museus,
fotografadas em revistas da moda, analisadas na aulas das faculdades
de arquitetura e construídas para milionários não para pessoas comuns e
pobres. A cidade de Chandigar de Le Corbusier na Índia e a Brasília de
Niemeyer e Lúcio Costa são exemplos típicos de uma ideia autoritária
a qual elaborou a planificação hierárquica dessas cidades monumentos.
As
duas cidades, têm as mesmas deficiências. São divididas em blocos denominados
por siglas de letras e números estritamente separados por níveis de renda
familiar o que não torna possível mudar-se para um setor de maior e
melhor categoria funcional se não de sobe no nível social. A
necessidade de mão de obra para os serviços originou nas periferias outras
cidades não planejadas e em geral, pobres ou miseráveis até. As favelas
são a outra cara dos portentosos monumentos de Brasília. Um arquiteto argentino
afirmou que Niemeyer criou uma cidade do século vinte e várias dos séculos
anteriores em suas periferias. Por sua vez, o planejamento urbano de Chandigar
revelou a visão do mundo de Le Corbusier, autoritária, hierárquica,
discriminadora, que não difere muito da visão de Niemeyer e Lúcio Costa. E, que
afinal, acabou influindo na organização e na atuação do poder político
brasílico.
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Franklin
Cunha é médico, membro da Academia Rio-Grandense de Letras.