Comemorar o Natal com opulência e, mais recentemente, com
foguetório eu somente conheci aqui, depois de adulta.Celebrar o nascimento de
Cristo é enaltecer valores por ele legados como
fraternidade, união familiar, harmonia entre os humanos. Valores estes que me
parecem não coadunarem com festança, barulheira e comilança. Até por que o
aniversariante nasceu em condições precárias e pautou sua vida na simplicidade.
Natal em minha infância bucólica era despretensioso. Nele o
aniversariante era e continua a figura central. O pinheiro era ornamentado
somente na véspera do grande dia, com pequeninas velas de cera e tufinhos de
algodão. Tudo preparado por Christkind,
conforme a Wowa alertava.Para não
incomodarmos Menino Jesus, estávamos
proibidos de entrar na sala. Nossos pais nos ocupavam com afazeres externos
para deixar tudo digno do evento.
Durante todo o Advento a casa rescendia a especiarias. Na
companhia da Wowa Lídia fazíamos Weihnachtsdoss.
Enfeitávamos os Doss com fina camada
branca de clara de ovo em neve – a simbolizar as neves natalinas dos ancestrais
e os salpicávamos com cristais de açúcar – a lembrar estrelas. Biscoitos
natalinos se fazem presentes desde sempre na celebração e para ofertar às
visitas. O segundo dia de Natal também era feriado. Ia-se de casa em casa
admirar os pinheirinhos e os presépios.E, claro, receber e oferecer
biscoitinhos.
Muito mais tarde, já adulta, conheci,nos centros urbanos,o
Natal com peru, mesa farta e muitos presentes. Também participei de natais na
companhia de famílias de amigos na Alemanha. Lá entrei em contato com um
Advento rico em tradições. Por diversos Natais estive na terra de meus
antepassados. Em país rico, conheci Natal singelo. Os presentes, muitos, são confeccionados
pela própria família (como na minha infância). Principalmente pacotinhos de
biscoitinhos ou presentes artesanalmente feitos em casa, ou algo que se sabe
ser do desejo do presenteado, principalmente livros. Crianças recitam versos,
cantos natalinos ressoam. Mesa disposta com símbolos natalinos e luz de velas. Na família
de minha amiga Sabine Heinlea KöniginPastete
(cestinha de massa folhada, recheada com RagoutFin)
é servida com salada. Na família de meu amigo professor Engels serve-se salsicha
grelhada com salada de batata à moda schwäbisch.
Na família Rosemann, cujo filho é deputado federal, sempre sou recebida com uma
grande variedade de biscoitinhos, feitos pela sua mãe, minha amiga Jutta, e
Champagne. Noite de véspera, 22:00 horas é a vez do culto natalino à luz de
velas e canções natalinas que vêm de longe, presentes em natais há muitas
gerações e se ouve repicar de sinos por toda parte.No almoço em dia de Natal
serve-se, principalmente, carpa ou ganso assado, com algum acompanhamento. As
visitas são recebidas com biscoitinhos e Christstollen–
cuca natalina –diante da árvore natalina, como sempre foi na minha infância:
Natal singelo mas, por toda parte percebo espírito natalino presente.A
propósito, o segundo dia de Natal continua feriado lá, e sem foguetório, porque
Natal não é Noite de São Silvestre.
*Lissi Bender – doutora em Ciências Sociais, vice-presidente
da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul.
lissi.bender@gmail.com