O caminho de volta...
(Teta Barbosa - jornalista, publicitária e mora no
Recife)
"Já estou voltando. Só tenho 45 anos e já estou fazendo
o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo... Indo morar no
apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre. Indo
comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso,
durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de
semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a
babá de mãe! Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde
mesmo? No que ninguém conseguiu responder. Eu imaginei que quando
chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra "fim". Antes dela,
avistei a placa de "retorno" e, nela mesmo, dei meia volta.
Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato
mesmo). É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do
bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. Agora
tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que
meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em
quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de
bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar
(principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). Por
aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é
quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro
e, pasmem, lê. E no que alguém diz: "a internet voltou!", já é
tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o
Snapchat juntos. Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia
indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de
cama. No São João, assamos milho na fogueira. Aos domingos, converso com
os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... Aí
eu me lembro da placa "retorno", e acho que nela deveria ter um
subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!"
Você, provavelmente, ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que
disse: "Compre um e leve dois". Nós, da banda de cá, esperamos
sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer
o caminho de volta..."