Andou bem o Ruy ao preservar a morada do João de Barro.
Aprendi com meu pai (cujo sítio chama-se João de Barro) que
somos nós os invasores do espaço onde muito tempo antes já habitavam em paz os
bichos.
E desde que não sejam nocivos à nossa saúde, temos que
abrir-lhes espaço, conviver com eles e ainda compensá-los pela nossa presença
nociva no território deles.
Em não raras vezes em que meu pai encontrou algum bicho no
sítio, mesmo uma cobra ou aranha, sempre capturou o animal sem machucá-lo,
levou-o até um local seguro para “ambas as partes” e lá o soltou. Tenho feito
isso também minha vida toda. E acho que passei adiante o conceito, pois uma de
minhas filhas é devotada de tal forma aos animais que se recusa a comê-los,
tendo se tornado vegetariana.
Na verdade, na perspectiva dos bichos, nós humanos é que somos
os estorvos, os destruidores, os que aniquilam a vida. Por isso, muitos
deles nos evitam ao máximo, porque somos asquerosos e perigosos.
Durante alguns anos, auxiliei uma mãe sabiá que todo mês de
setembro vinha fazer ninho aqui, sobre o mesmo palanque do estacionamento aos
fundos do terreno do escritório, bem debaixo do canto de uma mesma telha
metálica. No primeiro ano, devido ao calor do sol esquentando e se irradiando
pela telha metálica, muito próxima ao ninho, ela perdeu um dos filhotes. A
partir daí, passei a montar uma pequena cobertura de madeira sobre aquela parte
da telha, com um segundo telhado, impedindo que a telha esquentasse. Fazia isso
sempre ao primeiro sinal de construção do ninho. A zelosa mãe sabiá parece que
acostumou-se com minha presença ocasional. E fomos nesta lida durante uns 5
anos: ela sempre vindo fazer o ninho em setembro, no mesmíssimo lugar, sempre
chocando e criando os seus dois filhotes, alimentando-os até sumirem depois das
aulas de voo. Este é o segundo setembro que aquela mãe sabiá não dá o ar da sua
graça por aqui. Talvez tenha encerrado seu ciclo de vida. Uma pena. Já estava
acostumado com a convivência e parceira. Abrç, Rogério
-------------
-------------
Quando o João de Barro escolhe
tua casa para nela assentar a sua, iss0 é bom presságio. Não esqueçamos que o
Barreiro é um legitimo arquiteto natural. Tem divisões em sua casinha e a
entrada faz frente para o lado de 0nde não virão tempestades. E, finalmente, a
tessitura de um ninho feit0 de barro e pequenos gravetos, é quase
indestrutivel. Sacá-lo de lá pela força, é ato que viola a natureza. Por isso,
parabéns, amigo Ru y.