Empresas e analistas seguem
ressaltando os preços nominais da soja, e nós produtores, continuamos focando o
faturamento como ferramenta administrativa financeira. Não é priorizada a
aferição das despesas e muito menos os lucros.
Na atividade rural, como não
participamos na composição do preço de venda de nossa produção e como também não
nos propomos a administrar o custo para produzir uma saca de soja em função do
tradicional custo por hectare, ficamos na dependência dos
altos lucros da atividade para encobrir o descontrole das despesas.
O estoque mundial de soja esta
ajustada e com perspectivas de boas safras. O preço em reais da soja tende ainda
a uma desvalorização aproximada de 7 a 8 por cento, refletindo aqui na terra
dos reais o que na terra dos dólares já perceberam a muito, a sobra de grãos.
Deu o previsto, irrigamos uma lavoura a dólar altamente valorizado (adubo,
fungicidas, secantes, etc...) e vamos vender a produção em reais, altamente
desvalorizados pela inflação.
O crescimento acelerado da
economia mundial nas últimas décadas absorveu toda a produção de commodities e
reembolsou generosamente os produtos agrícolas, sendo a soja a mais beneficiada
entre as culturas. A desaceleração da economia chinesa, principal motora do
milagre do crescimento, sinaliza o fim do boom econômico. Com o crescimento
econômico mundial reduzido e a economia brasileira em queda livre, o capital a
juros compatíveis com a atividade rural, tão necessário a investimentos,
desapareceu.
A fonte de recursos para gerar
produção que estava vinculado ao crescimento acelerado, hoje passa a depender
unicamente do lucro acumulado. Isso ocorre na atividade rural porque no Brasil
não se tem uma política pública de apoio ao produtor. Só para lembrarmos, essa
política deveria contemplar juro subsidiado, seguro agrícola e uma logística
razoável, com armazenagem, estradas e portos estruturados para escoar a safra
em tempo real. O detalhe é que, se começássemos a pensar nisso hoje, só daqui a
10 anos teríamos algum resultado.
Todos estes entraves reforçam a
importância de uma boa gestão financeira que nos conduza ao lucro, aliás, como
ocorre em qualquer outra atividade econômica que não a sojicultora. O mais
importante de tudo nesse momento é a rentabilidade em curto prazo e a melhor
aposta continua a serem investimentos no potencial produtivo da terra, como por
exemplo, agricultura de precisão. É a única saída, não podemos mais contar
somente com boas chuvas e preços favoráveis.
Devemos estar atentos a investimentos
que prometem grandes aumentos de produtividade. Produtividade elevada não é sinônima
de eficiência econômica.
Aumento de produção a qualquer
custo é puro interesse das empresas fabricantes de equipamentos, que é medido
pelo lucro, e do governo, que é medido pela arrecadação de impostos. Se o
governo se preocupasse realmente com a renda do produtor já teria dado um jeito
nessa logística irresponsável e caótica.
Devemos ter em mente que:
Recursos para quitar
financiamentos de projetos de alta produção, sairão obrigatoriamente da alta
produção que se espera desses projetos.
Paulo Nicola