quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ARTIGO DE MUITO FUNDAMENTO DE PAULO NICOLA - SANTIAGO-RS


Empresas e analistas seguem ressaltando os preços nominais da soja, e nós produtores, continuamos focando o faturamento como ferramenta administrativa financeira. Não é priorizada a aferição das despesas e muito menos os lucros.

Na atividade rural, como não participamos na composição do preço de venda de nossa produção e como também não nos propomos a administrar o custo para produzir uma saca de soja em função do tradicional custo por hectare, ficamos na dependência dos altos lucros da atividade para encobrir o descontrole das despesas.

O estoque mundial de soja esta ajustada e com perspectivas de boas safras. O preço em reais da soja tende ainda a uma desvalorização aproximada de 7 a 8 por cento, refletindo aqui na terra dos reais o que na terra dos dólares já perceberam a muito, a sobra de grãos. Deu o previsto, irrigamos uma lavoura a dólar altamente valorizado (adubo, fungicidas, secantes, etc...) e vamos vender a produção em reais, altamente desvalorizados pela inflação.  

O crescimento acelerado da economia mundial nas últimas décadas absorveu toda a produção de commodities e reembolsou generosamente os produtos agrícolas, sendo a soja a mais beneficiada entre as culturas. A desaceleração da economia chinesa, principal motora do milagre do crescimento, sinaliza o fim do boom econômico. Com o crescimento econômico mundial reduzido e a economia brasileira em queda livre, o capital a juros compatíveis com a atividade rural, tão necessário a investimentos, desapareceu.

A fonte de recursos para gerar produção que estava vinculado ao crescimento acelerado, hoje passa a depender unicamente do lucro acumulado. Isso ocorre na atividade rural porque no Brasil não se tem uma política pública de apoio ao produtor. Só para lembrarmos, essa política deveria contemplar juro subsidiado, seguro agrícola e uma logística razoável, com armazenagem, estradas e portos estruturados para escoar a safra em tempo real. O detalhe é que, se começássemos a pensar nisso hoje, só daqui a 10 anos teríamos algum resultado.

Todos estes entraves reforçam a importância de uma boa gestão financeira que nos conduza ao lucro, aliás, como ocorre em qualquer outra atividade econômica que não a sojicultora. O mais importante de tudo nesse momento é a rentabilidade em curto prazo e a melhor aposta continua a serem investimentos no potencial produtivo da terra, como por exemplo, agricultura de precisão. É a única saída, não podemos mais contar somente com boas chuvas e preços favoráveis.

Devemos estar atentos a investimentos que prometem grandes aumentos de produtividade. Produtividade elevada não é sinônima de eficiência econômica.

Aumento de produção a qualquer custo é puro interesse das empresas fabricantes de equipamentos, que é medido pelo lucro, e do governo, que é medido pela arrecadação de impostos. Se o governo se preocupasse realmente com a renda do produtor já teria dado um jeito nessa logística irresponsável e caótica.

Devemos ter em mente que:

Recursos para quitar financiamentos de projetos de alta produção, sairão obrigatoriamente da alta produção que se espera desses projetos.

                                                                                                               Paulo Nicola