Muito antes de apertar a mão de Ruy Gessinger pela primeira vez, na
casa de um amigo comum, conheci sua prosa fluente e identifiquei nele
as qualidades do cronista capaz de iluminar cenas banais do cotidiano.
O primeiro texto, uma carta breve de leitor de Zero Hora, me fisgou pela elegância incomum entre os comentaristas de jornal.
Daquela troca de mensagens resultou minha inclusão no grupo dos que recebem em primeira mão os relatos postados em seu blog, uma confraria de homens
e mulheres que se reúnem no mundo virtual.
Há um pouco de Rubem Braga na forma como Ruy canta sua
aldeia e se faz universal. O velho Braga humanizava com palavras
qualquer cena daquele Rio de Janeiro que o alemãozinho de Santa Cruz
conheceu em sua primeira viagem de avião. Ruy leva seus leitores a
deliciosas viagens com direito a banho de rio, comida campeira, saraus
no pampa sem fim, concertos de violino ao luar. Apresenta Unistalda
como a sua Pasárgada, onde tem a vida que quer, ao lado de Maristela,
a mulher que escolheu. Ou seria Unistalda a sua Maracangalha?
Pouco tempo depois do primeiro contato, senti-me à vontade para sugerir
que Ruy que reunisse as histórias dispersas no ciberespaço e publicasse
em livro uma seleção de crônicas. É com muita alegria que lhes apresento
o resultado desse desafio: Trilhas, rumos e enroscos. São relatos silvestres
(e não selvagens) de um homem do mundo, que transita entre o campo, a
cidade e a praia sempre atento ao que possa render uma boa história, um
comentário crítico, um poema.
Os causos da infância e da adolescência (verdadeiros ou ficcionais)
remetem a um tempo de ingenuidade e de rios sem poluição (Seu
Willibaldo); de paixões platônicas e descobertas essenciais (A primeira
vez que morri); de encontros e desencontros que sugerem a ação de uma
mão invisível, mesmo para quem não acredita em destino (Bah! Não me
digam que o Rose Place ainda existe!). Ajudam a entender os valores que
forjaram a personalidade do juiz, do pai, do professor, do amigo que abre
a casa a alma aos seus afetos.
Não espere encontra neste livro a complexidade da linguagem usada
pelo professor Ruy Gessinger em suas obras jurídicas. Na crônica, ele
se liberta da toga, do terno e do vocabulário inacessível aos mortais.
Disfarça a erudição em textos capazes de comover dos colegas de ofício
à peonada da Pecuária Gessinger. Este livro é a porta de entrada para a
obra completa de um autor produtivo e eclético.
Rosane de Oliveira
Jornalista RBS