Franklin Cunha
Médico
“ A expectativa
de vida sobe para 74,6 anos”.( Dos jornais)
No
anuário L´Année Scientifique et Inustrielle de 1891,
lê-se que a duração média da vida humana à época era de 33 anos. Hoje, segundo
o IBGE, cento e pouco anos depois,
nossa expectativa de vida mais do que
dobrou. Outros fenômenos biológicos ocorreram nesse mesmo período de tempo. A
idade da primeira menstruação caiu de 16 para 12 anos e a da menopausa cresceu
de 45 para 50 anos. O número de filhos baixou de sete para menos de dois e de cada
quatro cidadãos do primeiro mundo, um tem mais de 65 anos. E o casamento
monogâmico e perene tornou-se quase um achado arqueológico.
A
visão futurista é a de um mundo onde se poderá viver 140 anos. E tal fato, com
a crescente velocidade dos avanços da biotecnologia e das condições
sócio-ambientais, não levará um século.
As
implicações sociais de um mundo habitado por macróbios pode nos preocupar, no
entanto o progresso das ciências naturais nos faz imaginar um futuro homem de
140 anos com a vitalidade e as potencialidades físicas e intelectuais de um
executivo atual de 50 anos.
A
velhice, esta condição do passado humano – dirão os médicos do futuro – era
acompanhada por uma desorganização da memória que podia diminuir ou
desaparecer, o que anulava as vantagens de uma vida longa. Se a senectude
equivale a uma baixa na entropia por degradação da energia celular, a
informação, ao se acumular, torna-se uma entropia ao contrário. Por exemplo: a
que se acumulou através do tempo no código genético,se renova constantemente no
sentido de uma organização cada vez mais elaborada . E Chomsky provou este fato
pela sua descoberta da existência da gramática generativa.
As
histórias de ficção científica que traçam cenários habitados por seres humanos
a salvo das degenerações física e metal, fazem uso de bancos de memória,
transplantes de cérebros, clones e robôs bióticos.Os clones em cadeia tornariam
os indivíduos cada vez mais ricos de informações, pois cada nova duplicação conservaria a memória dos clones anteriores. Estes
e
os robôs bióticos poderão, em nome da eficiência no trabalho, ser programados
tanto para executar tarefas específicas como também ser impossibilitados, de
rir, chorar, amar e reivindicar alterações em sua tarefas. A idéia é antiga,
Huxley,Orwell, Zamiatin, Karol Capek, já imaginaram e se preocuparam com tais
panoramas possíveis no futuro.
Imaginemos
o seguinte cenário: um ser humano “autêntico” se apaixona por uma jovem da qual
desconhece a origem, não a social mas a biológica( reprodução sexual ou
clonagem) ou biotecnológica ( robô biótico).
- Desculpe-me
Rê, ainda não sei se seu nome é Renata ou apenas um código de fábrica.
Faço a pergunta querida porque ainda não te vi comer, chorar ou rir.
A
moça fisicamente perfeita, parecendo recém saída de uma linha de montagem ( ou
de clonagem), sorri levemente e começa comer uma maçã.
- Isto não me
leva a nada, meu bem. Tua cópia pode ser tão perfeita e o mecanismo tão
sofisticado que até o ato de comer e sorrir podem ter sido programados para te
fazer mais verossímil
Rê
vira o rosto, finge tossir, enxuga uma lágrima e corre sem se despedir, para
pegar seu aerônibus.”
Franklin
Cunha
Médico