terça-feira, 18 de junho de 2013

ACONTECEU EM NICE


 
Claro que vocês  sabem que Nice fica na Riviera  francesa, que foi fundada pelos gregos exatamente no lugar onde se situa hoje a Vieux Nice ( a antiga Nice). Mas estava eu na Alemanha, anos 80, fazendo um curso. Meio enfastiado , decidi pegar um trem sem destino específico ( eu tinha um eurailpass).
Desci em Nice e me hospedei num hotelzinho e a primeira burrice que fiz foi comprar no super umas coisinhas que acabei não podendo comer, inclusive o famoso patê deles.
Dei um pulo na praia, quase repleta de seixos e havia umas pessoas jogando vôlei. Eu era relativamente jovem e me acerquei.Impressionante: era uma Torre de Babel, havia gente de todas as nacionalidades.
Intrigou-me uma mulher jovem de seus 20 anos, dourada, cabelos longos, loucamente ondulados, 2 m de altura, olhos muito azuis.
Chamava-se Gudrun. Sim, Gúdrun ( o n final pronuncia-se como o n de nada). Era alemã e comecei a falar com ela. Havia americanos, europeus, em geral, uma miscelânea de gente, mas a Gudrun era a rainha da praia. Ela cantava as bolas boas e fora, ela dava as ordens, era a única mulher jogando no meio do machedo.Imaginem que ela escalava quem entrava e quem saía, mesmo no time adversário.
Eram 4 para cada lado da rede e ela me escolheu de levantador.

A cada tanto me dizia:

Hast verstanden? ( entendeu?)

Não sei porque logo me lembrei da minha vó Rosa Klafke Gessinger que também me dava ordens peremptórias quando eu passava parte das férias em Boa Vista.

Lá pelas tantas começou a me instruir num dialeto mistura de cachorro louco com lingüiça:

-


- cjdkjfsdjbfeuygyutr! ( só levanta a bola e deixa comigo)
O prazer dela era acertar a cabeça dos caras do outro lado, no baixo ventre, em tudo. Adorava quando arrancava o boné de um, voltava-se para nós três, seus parceiros, e nos abraçava de uma só vez.
Ela me indagava, quase num espasmo de prazer, a jugular latejando :
jaiaeirghifa? ( onde quer que eu acerte aquele babaca ali?)
Numa dessas balbuciei,  com a maldade que está no meu DNA ,

 

- nos ovos!
E a Gudrun alçou-se e cortou bem lá. Enquanto sua vítima esganiçava, ela me abraçava com tanta força que estalaram todas minhas vértebras, eu que tinha 90 kgs e 1,88 de altura.

Se antes pensava em , ao término do vôlei, convidá-la para tomar uma ducha no meu hotelzinho e desfalecer nos braços daquela  Valquíria ,me lembrei daquelas aranhas que têm maus costumes com seus parceiros aranhos.

 


Pensei. Se ela é assim no vôlei, se tem esses instintos emasculadores, não convém eu continuar nesse intermezzo.
Saltei fora.

Mais um namoro que não deu certo.

(PUBLICADO HOJE NA GAZETA DO sUL, JORNAL DIÁRIO DA GLORIOSA SANTA CRUZ DO SUL)