Sou psiquiatra (perita judicial) e parabenizo o Dr. Afif. Eu li o seu artigo e
gostei muito. Eu já vi e ouvi coisas incríveis, como uma vovó, de cabelos
brancos, que vendia tudo dentro de casa (panela de pressão, trinco das portas,
botão de descarga do vaso sanitário, etc) para comprar a pedra. Também um
motorista de táxi me revelou que roubava, assaltava ou era “descuidista”
(conforme a necessidade momentânea do uso da pedra) com seus passageiros e, por
fim, os recrutas do quartel, que revelam que, para aguentar a dureza do serviço
em caserna, usavam drogas repassadas pelo muro pelos traficantes residentes nas
redondezas, sabedores da nova e promissora clientela.
Uma das maneiras mais comuns de conseguir nova clientela para a pedra é
colocá-la dentro do cigarro de maconha (o famoso “pitico”). Pessoas que
contratam garotas de programa já pedem que elas venham com um “baseado”. E este
baseado já vem batizado, sem que o cliente saiba.
Em contra-partida, o governo, que deveria abrir novos leitos psiquiátricos e
hospitais, distribuirá cartões de crédito para tratamento e as tais “fazendas
terapêuticas” brotam como cogumelos após a chuva. Sem falar na intenção de
trazer 6.000 médicos de Cuba, abolindo a revalidação de diploma. A adição
ao “crack” e sua síndrome de abstinência necessitam de tratamento médico
prolongado, em hospital, abordando o viés clínico e psiquiátrico, usando
medicação antipsicótica, antidepressiva, antimania, estabilizadora do humor e
aquelas que forem necessárias para as manifestações clínicas.
Aquilo que vemos nas notícias, como o caso da dentista incendiada, a mulher
estuprada dentro de um ônibus e o rapaz assassinado na frente de seu prédio
(todos estes crimes foram cometidos por menores de idade) é apenas o início dos
tempos horripilantes que viveremos, pois vai piorar, creiam-me.
Em perícia realizada por mim numa “comunidade terapêutica” para usuários de
“crack” havia um menino de treze anos, já pai de dois filhos. O que mais
esperar?
Abraços,
Laís Legg