Um dia fiquei observando, do alto de um cerro, numa invernada lá dos fundos, um olho d’água. Surge perto de uma pedra e o filetezinho vai serpeando por entre o capoeiral uns metros. Logo depois, já encontra arbustos maiores um pouquinho e uns 50 metros além começa a chamada mata ciliar, com árvores mais frondosas dos dois lados do leito , já com meio metro de largura. Apeio e sigo a pé, por entre tocos e pedras, até que o corregozinho junta-se a outro. A mata ciliar se torna mais larga e mais espessa até que, num lagoão rochoso, forma-se uma verdadeira piscina, já com palmeiras ou coqueiros, e diversas árvores e arbustos.
Consumi duas horas seguindo o cursinho d’água, agora já transformado em sanga, até que o mesmo deixa as nossas terras e se vai embora até o Rio Santa Maria ou o Itacurubi, não sei bem.
A verdade é que, em todo o percurso, de uns 6 kms, não ví uma bolsa de plástico, uma lata, nada.
Fico pensando naquelas gotinhas d’água que sairam daquele cerro. Foram conhecendo outras gotinhas, todas felizes, contando suas peripécias e as coisas que presenciaram. Em seguida, quando sairem da região pastoril vão ver o que é bom para a tosse. Conhecerão agrotóxicos, plásticos, lixos.
Mais adiante terão contatos com os esgotos urbanos, sofás, pneus velhos, carcaças de carros roubados.
Pobres gotinhas d’água que sairam daqui dos campos puros de Unistalda. Quanta saudade sentirão ao darem com o mar….