Consumou-se a tragédia e a Rússia atacou militarmente e invadiu a Ucrânia.
Há quem, para explicar os terríveis eventos, queira apenas embaraçar os acontecimentos e reforçar narrativas. Mas os fatos se apresentam na sua aparência e inteireza, da primeira até a última leitura e impressão.
Quem fez todos os movimentos voltados para um só objetivo? Quem fez ameaças o tempo todo, com breves instantes de (má) dissimulação, alegando motivos nobres e a intenção de esgotar os esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito? Quem reposicionou tanques e armas de destruição na mais perfeita simetria com o ataque iminente, nas fronteiras com a Ucrânia? Quem ignorou todos os apelos de paz para a região? Quem puxou o primeiro gatilho, deu o primeiro tiro? Quem avança território adentro do país ocupado, derrubando muros e prédios a ferro e fogo, destruindo propriedades e exterminando vidas preciosas, inclusive de mulheres e crianças?
A resposta é uma só: a Rússia, Putin. Não é o caso de se referir, agora, a outras variáveis, como a desse personagem meio distante, aloprado, que é Bolsonaro, que se deu ao trabalho e ao vexame de ir – poucos dias antes da tragédia – oferecer "solidariedade" a Putin. E nem a certos protagonistas da política no Brasil, como Lula e o PT, que fazem uma condenação genérica às guerras, mas no caso concreto, atribui culpa igual (senão maior) à Ucrânia, Otan e Estados Unidos.
No centro do drama de desdobramentos ainda imprevisíveis, está a figura sinistra de Vladimir Putin. Frio, calculista, completamente destituído de escrúpulos, ele não tinha como trair as suas origens, a sua formação – a sua escola foi a temível KGB, a agência sinistra de delação, espionagem, torturas e assassinatos da antiga União Soviética. Do aprendizado macabro não teria como resultar um ser humano, digamos, normal, sensato, dotado de empatia, orientado por valores e princípios. Do buraco soturno só podem sair anjos da morte. Putin está mais para Stalin do que para Gorbachev.
A Rússia tinha convivido em paz com a Ucrânia, desde a derrocada da União Soviética, mas não sem um ressentimento profundo dos ucranianos em relação aos russos em geral – que é, por sinal, compartilhado por todos os povos da ex-URSS. Os países da Cortina de Ferro, do Pacto de Varsóvia, em grau maior ou menor, eram, a rigor, dirigidos com a mão de ferro por fantoches comandados de Moscou. Quem os sustentava eram os tanques de Moscou. Não há povo, dentre aqueles que estavam sob a influência soviética, que não tenha medo, ressentimento e ódio de Moscou e dos russos.
Mas não havia tensões insuportáveis, que não pudessem ser abrandadas e mesmo resolvidas através do diálogo e do convívio civilizado. Fazia tempo, depois dos Balcãs, que não ocorriam conflitos violentos na região, que não havia conflitos armados na Europa.
Há, é certo, razões históricas, econômicas e geopolíticas para a crise. Mas a razão dominante é a sede de sangue, a sanha belicista, o caráter psicopata de um personagem – Putin – que se fez e criou nos porões do totalitarismo.
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