quinta-feira, 17 de março de 2022

O INESQUECÍVEL KAPPESBERG 2

 Havia três dormitórios enormes, um para cada divisão. As camas eram simples e pequenas e não havia quartos. Ao lado de cada leito um estande pequeno com uma toalha e uma bacia. Ao fundo  os WCs . Os banhos de verdade eram às quartas-feiras, se não me engano. Havia uma piscina encravada na rocha. Entrávamos de calção e ali nos lavávamos na água fria, inclusive no inverno. Necessário frisar que não tínhamos férias de inverno. No dia de Santo Inácio os pais e parentes podiam visitar os seminaristas. As férias eram em janeiro e fevereiro.

O nosso dia era assim: bem cedo soava a sirene para que todos despertassem. Íamos ao pátio para exercícios físicos. Após era servido um café com leite e uma fatia de pão com “Schmier”. Depois todos se dirigiam para as salas de aula. O silêncio era rigoroso e o aluno que quisesse fazer uma pergunta tinha que levantar a mão e esperar o professor permitir.

O currículo pode-se se dizer que era como os antigos “ clássicos”, com ênfase , portanto ,para Idiomas, Filosofia, Religião, História etc. 

Em idiomas o Latim e o Português eram obrigatórios e havia opção para escolha do Francês, Inglês ou Alemão. Diga-se de passagem que o Latim era obrigatório no vestibular de Direito da UFRGS no meu tempo. Fui aprovado graças ao estudo no Seminário.

Havia uma excelente biblioteca, muito importante para uma  formação sólida.

Também havia uma ala bem grande para o estudo da música. Nesse ponto os padres primeiro viam quem tinha  dom musical para o canto. Alguns logo se destacavam para algum instrumento. Havia vários órgãos , instrumentos de corda , sopro etc.

Eram três os  campos de futebol. Muitos jogavam de pés descalços, davam voadoras pois valia para eles tudo do pescoço para baixo. Realmente muitos eram filhos de agricultores e um número um pouco menor vinha das cidades.


As cartas enviadas não podiam ser fechadas.Só eram despachadas depois de um Padre as ler. As que vinham eram previamente abertas e lidas pelo superior.

Fora dos períodos de aula, havia o trabalho. O seminário tinha uma boa extensão de terras, com animais e plantações.Os “ colonos” preferiam a roça. E nós, os “ cidadãos”, pegávamos mais leve, como trabalhos manuais, jardins, colheita de frutas.

Durante as refeições era comum a leitura em voz alta de textos. Por sinal o hábito da leitura cresceu para mim no Colégio Santo Inácio.

De minha parte asseguro que fui muito feliz e fiz eternas amizades , nunca tendo qualquer dissabor.


“At last but not least”, falarei sobre as orações e outros temas, porém  mais adiante .